É no silêncio que teima em coabitar em paredes que me rodeiam, que divago sobre um passado que ficou descrito em memórias e que jamais se evaporarão na infinidade de um horizonte, onde os mistérios teimam em lisonjear-nos com ávidas recordações. Recorro ao meu arquivo desportivo e dou por mim a elaborar mais uma crónica semanal e que tem hoje como cândido encantamento a Mina de São Domingos. Em cada recanto daquele local existem resquícios de saudade.
À labuta quotidiana de outrora travada nas entranhas da terra na procura do precioso minério, existem, paralelamente, espaços desportivos que nos fazem reviver épocas de ouro do São Domingos Futebol Clube. O decrépito campo de jogos Cross Brown, outrora palco de tardes de brilhantismo futebolístico, lá continua imune às opções que o homem porventura sustente. Longe vão os tempos em que os ingleses, funcionários da firma Mason and Barry, deliciavam a plebe com a majestosa arte do jogo da bola.
Narra a história que o futebol chegou ao povoado no ano de 1918, sendo Manuel Revez Pereira um dos seus grandes impulsionadores, fundando-se, então, o Guadiana Foot-Ball Club, com sede numa das ruas do Bairro Alto. Tendo em conta a rivalidade existente entre adeptos do Benfica e do Sporting, eis que deu à estampa o São Domingos Foot-Ball Club, um grupo formado na base de aficionados benfiquistas. A sede do São Domingos fixou-se na Casa dos Ingleses, onde se mantém.
Numa observação aos tempos idos, constata-se que o Guadiana equipava “à” Sporting e o São Domingos “à” Benfica. Todavia, o clima clubista, entretanto vivido, encarregar-se-ia em fazer do São Domingos o emblema mor que ficaria para a posterioridade. Do lote de craques que nas décadas de 30, 40 e 50 do século passado elevaram o nome do lugarejo, assim como de um grémio que deu brado em solo lusitano, cito Alfredo Valadas e Domingos Lopes, jogadores que atingiram o padrão de internacionais A.
É óbvio que foram muitas as estrelas que brilharam a nível nacional em clubes de renome e que tiveram como origem a emblemática coletividade, mas essa é uma outra matéria que por ora não o dissecaremos, pois foram muitos os craques que orgulhosamente transportaram o nome do São Domingos nos diversos palcos de futebol nesta pátria lusa, assim como além-fronteiras. Por isso, limitemo-nos a recordar aquelas tardes em que a Mina fora anfitriã de múltiplos prazeres, principalmente quando a equipa militou na II Divisão Nacional. Mas, porque para lá do futebol, onde multidões de pessoas marcavam a sua presença, pela sua estrada alcatroada passeavam airosas moças que deixavam os visitantes completamente pasmados. Atualmente, vive-se da saudade, dos embates do jogo da bola no seu auge, sendo, contudo, lícito aplaudir o historial de um grémio, fundado a 15 de agosto de 1920, e que muita alegria deu à região. Tempos que já não voltam!