As palavras têm peso, as palavras ganham mais ou menos peso por causa da forma como são ditas. É de dentro de um tom ou de um estilo de escrita que elas saem, é revestidas de uma determinada intenção que elas se dizem e se escrevem, às vezes acariciando, outras vezes esmagando. As palavras também têm valor, há umas que valem muito, valem abraços e ternura e céus de espanto, mas há outras que não valem nada, nem a mente de quem as pensa, nem a boca de quem as diz, nem a mão de quem as escreve. Há quem as gaste na retórica e na presunção e as dite como se os outros não conhecessem palavras, como se os outros fossem analfabetos de entendimento e argumentação. Há quem as desaproveite e as esbanje em conversas vazias, vidas inteiras à espera de terem significado, não percebendo que as palavras também têm uma medida, se forem de mais perdem o sentido, se forem muitas afogam o silêncio e o silêncio é o dono das palavras certas, é da boca do silêncio que saem as palavras importantes. Há quem as guarde para momentos que nunca chegam, vidas inteiras à espera de as conseguirem dizer, afogadas em silêncio e o silêncio é a boca das palavras que têm de ser ditas. Há quem tenha medo delas, medo de as dizer e medo de as ouvir, há quem opte pelo silêncio e o silêncio pode ser o princípio de toda a solidão. E também há quem as diga e com elas construa edifícios de luz e transparência.