Diário do Alentejo

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Luís Godinho, jornalista

04 de junho 2021 - 09:25

O estudo da Universidade Católica divulgado pelo “DA” deve ser lido por todos com a atenção que merece pois é urgente tomar medidas para desativar essa verdadeira “bomba relógio” que está prestes a explodir no sudoeste alentejano, mais concretamente no concelho de Odemira. As previsões de João Confraria, do Centro de Estudos Aplicados da Universidade Católica, não são para daqui a cinco ou 10 anos, são já para 2022, para o próximo ano. Aos problemas existentes e que decorrem da pressão migratória naquela região – sendo o mais significativo a existência de milhares de trabalhadores imigrantes vítimas de máfias e redes de tráfico e forçados a subsistirem em condições desumanas – poderão muito em breve somar-se outros. A perspetiva de João Confraria é que as escolas venham a ter mais 29 por cento de alunos (sendo necessário adaptar os espaços e contratar muito mais professores), se registe um aumento de 14 por cento nas consultas médicas e tenham de ser contratados mais médicos e enfermeiros, sob pena do acesso aos cuidados de saúde se degradar. As despesas ambientais a cargo do município vão aumentar cerca de 20 por cento. E os serviços públicos, todos eles, não estão minimamente preparados, sobretudo de um ponto de vista dos recursos humanos, para dar resposta a uma população residente que aumenta todos os anos de forma descontrolada. Acrescem os problemas habitacionais. Com todas as casas – e, na maior parte das vezes, até espaços a que muito dificilmente poderíamos chamar de casas – colocadas ao serviço das necessidades da agricultura intensiva, em quartos onde já dormem 10 e 12 pessoas, “é impossível encontrar uma habitação para arrendar”, alerta o presidente da Junta de Freguesia de Milfontes. Sem um aumento da oferta de habitação “haverá um crescimento ainda maior” dos preços das rendas e do custo dos imóveis. O território “não tem condições para acompanhar as exigências da nova agricultura na oferta de habitação aos imigrantes, de infraestruturas, de desenvolvimento social, de articulação cultural, de aumento populacional em tão curto espaço de tempo”, reconhece o presidente da Câmara de Odemira. Nada fazer, ou nada fazer em tempo útil, traduzir-se-á em consequências dramáticas sob vários pontos de vista, a começar no social e a terminar no político – basta ver como a Andaluzia se transformou em 2019 no “palco perfeito” para o crescimento da extrema-direita espanhola para se ficar com uma ideia da ameaça que enfrentamos. Os problemas em Odemira não são resolúveis à escala local, antes exigem um esforço nacional para que seja possível encontrar as respostas adequadas, salvaguardando também os valores ambientais, paisagísticos e culturais da região, boa parte dela inserida no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. Há, desde logo, uma pergunta a que é necessário responder: será com este tipo de agricultura que vamos criar uma região e um país ambientalmente, economicamente e socialmente mais sustentável?

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