Parece haver uma medida, um tempo ideal para uma boa noite de sono, devemos dar oito horas de descanso ao corpo e à mente para atravessarmos calmamente a noite, dormir parece ser tão fácil, dizem os meus sobrinhos que é só fechar os olhos e adormecer, e quando adormecem de repente, logo depois de sorrirem, logo depois de dizerem até amanhã, vejo os seus rostos serenos, ouço a respiração leve, sinto quietude no quarto, nos livros de histórias, nas fotografias dos avós que já partiram, no silêncio da casa toda, o resto, presumo, é a natureza das coisas a fazer o seu trabalho, a retemperar forças, a fazer pontes entre um dia e outro, a matar cansaços e a gerar energia. Eu fecho os olhos como eles me dizem, fecho os olhos como fechava quando era novo e havia quietude e todos estavam vivos e encontrava silêncio dentro de mim, apago a luz com as pálpebras, tento fechá-las como quem fecha portas à chave para ir de férias, dói-me a cabeça, o peito, o coração, a voz, tenho pois todas a condições para poder ser feliz, reúno todos os requisitos para não me preocupar com noites em claro, mas não consigo adormecer, assim que fecho os olhos acende-se uma luz no pensamento, um foco a apontar para o que ficou por fazer, a incidir na dúvida, a iluminar buracos, a tentar remediar passados e a antecipar futuros. Quando finalmente consigo adormecer, os meus sobrinhos acordam-me para irmos brincar.