Os bons órgãos de informação têm a espinha direita. Os bons órgãos de informação são a marca do tempo, impressão digital, consciência, bússola, farol, mapa, a alma da liberdade, pedra em vez de charco, interrogação, exclamação e grito em vez de silêncio. Não podem ser um espelho onde se refletem imagens narcisistas, cata-ventos, um abrir as pernas, pôr-se de joelhos, deitar-se em qualquer cama, pôr o rabo entre as pernas, ser a voz de um qualquer dono, a caixa de ressonância de quaisquer lérias, o eco de um interesse, o tentáculo de um polvo. Quando os vemos, ouvimos e lemos, devemos ficar aptos a abrir horizontes, brechas, alas, caminhos, gargantas. As mulheres e os homens que escrevem, editam, publicam, mostram, falam, apresentam, têm de ser livres, não podem nunca estar sujeitos a grilhetas, trelas, encomendas partidárias ou determinações ideológicas. Esses homens e essas mulheres têm de ser transparentes, não podem nunca esconder a realidade, não podem nunca ter medo das suas próprias palavras. Que bom seria para alguns que ninguém dissesse nada, que não contestasse, que não acusasse. Quem tem medo das suas próprias palavras, quem tem medo de afrontar poderes instituídos, quem não tem a coragem de dizer a verdade, deve escolher ser outra coisa qualquer, uma coisa comezinha, uma coisa menos nobre, mas nunca poderá abraçar esta profissão tão fundamental para a nossa democracia.