Diário do Alentejo

Estado de Consciência
Opinião

Estado de Consciência

Vítor Encarnação, professor

05 de maio 2021 - 16:40

Certamente muito mais difícil do que decretar o estado de emergência é fazer cessar a sua validade. Quando há um problema na rua, o mais fácil é fecharmos a porta de casa e protegermo-nos lá dentro à espera que o problema passe, e logo que ele passe, seguros e descansados, reabrimos a porta e regressamos à nossa vida normal. Infinitamente mais complexa é a situação de persistência do problema na rua durante meses. Chegou agora o dia em que, apesar do medo e da insegurança, temos de abrir a porta porque precisamos de respirar, de viver. Até aqui, com exceção daqueles que tiveram que abrir a sua porta todos os dias para irem trabalhar para que a comida pudesse entrar pelo postigo das portas dos que puderam ficar em casa, uma boa parte da população, mais serena ou mais saturada, ficou confinada. O estado de emergência vai cessar porque é preciso abrir cada vez mais portas para que o país possa repor algumas parecenças com a normalidade, para que as estruturas familiares, económicas, culturais, educativas, não morrendo da doença, não venham a definhar e a desaparecer por causa da cura. Perante tudo isto, com portas mais fechadas ou mais abertas, com mais leis ou menos leis, há um estado incontornável que cada um de nós tem de assumir e decretar: o estado de consciência. No sentido da sinceridade, da honradez, do cuidado, do esmero, da retidão, do respeito, do escrúpulo.

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