Diário do Alentejo

Vacinar rapidamente é a solução
Opinião

Vacinar rapidamente é a solução

Bernardo Loff, médico reformado

04 de maio 2021 - 15:30

A história da humanidade está repleta de epidemias que causaram grande mortandade nas populações. Não se conhecendo as suas causas, não havia prevenção nem tratamento. Na idade média são conhecidas algumas epidemias que obrigavam à deslocação das classes possidentes, o rei e a corte, para outra localidade, até a situação acalmar. Mais tarde, introduziu-se a obrigatoriedade da quarentena dos navios que chegavam aos portos. O progresso científico, com a descoberta dos agentes patogénicos responsáveis a partir do final do século XIX, permitiu compreender as causas e os mecanismos que estão na base da propagação dos agentes infecciosos, essenciais para equacionar a luta eficaz contra a sua disseminação.

 

Não havendo ainda medicamentos eficazes contra os vírus, a ciência procurou encontrar outras soluções para combater estas doenças virais, as vacinas. Tendo o nosso organismo a capacidade de reagir contra agentes estranhos invasores, com o fim de os neutralizar e destruir, através do sistema imunitário, compreendeu-se que a ativação específica deste por uma vacina o dotava de uma capacidade de atenuar ou eliminar a ação prejudicial de um agente infeccioso invasor.

 

Um dos sete coronavírus humanos conhecidos emergiu com uma virulência inesperada em dezembro de 2019. Foi batizado com o nome de SARS-CoV-2. Espalhando-se rapidamente por todo o mundo, foi identificado pela primeira vez em Portugal em março de 2020. Se, num primeiro momento, o confinamento teve o seu papel na contenção da epidemia, não se justifica a atual política do Governo de confinar/desconfinar, com as graves consequências económicas e sociais que implica e que são bem visíveis e sentidas por todos nós. E a razão é simples: foi conseguida uma vacina segura e eficaz contra a covid-19, aprovada para uso clínico no final de 2020. Desde então, várias vacinas têm sido aprovadas e muitas outras estão na fase de investigação. Não havendo antivírico eficaz, a vacinação é a medida correta e segura (os efeitos secundários graves descritos, já identificadas previamente na fase dos ensaios clínicos, são desprezíveis em relação aos benefícios da vacina, não justificando o alarido que foi feito à sua volta), cientificamente comprovada, para a luta contra a presente pandemia.

 

Sendo que a pandemia afeta todos os países, toda a humanidade, seria importante que as vacinas fossem consideradas como um bem público e urgentemente postas à disposição de todos os povos do mundo. Infelizmente, temos assistido a conflitos comerciais entre várias multinacionais farmacêuticas, visando obter para si o maior lucro possível com a venda das vacinas, relegando para segundo plano o que é mais relevante: vacinar o mais rapidamente possível todas as pessoas.

 

Não é bonito de se ver o incumprimento de cláusulas contratuais por parte das farmacêuticas, nomeadamente os prazos de entrega das vacinas. Não é bonito de se ver os constantes atrasos e adaptações do plano de vacinação consequentes das limitações ao acesso a doses de vacinas, fruto de acordos estabelecidos entre a União Europeia (UE) e as multinacionais farmacêuticas. Não é bonito de se ver, por causa deste acordo, a nossa dependência em relação à UE, impedindo Portugal de ter mais vacinas e de poder diversificar a sua origem. Não é bonito de se ver por parte do PS, PSD, CDS, PAN, Ch e IL a não aprovação na Assembleia da República do Projeto de Resolução do PCP, em 8 de abril passado, propondo ao Governo a aquisição de outras vacinas já reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e uma intervenção junto da mesma com o objetivo de suspender a validade das patentes.          

 

Em complemento à vacinação, é necessária a testagem com critérios bem definidos e o rastreio dos novos casos e dos seus contactos. A preocupação com a pandemia não deve ser exclusiva; há que reabrir os postos de saúde que foram encerrados e restabelecer em pleno as consultas presenciais.

 

A solução indicada para vencermos a atual pandemia é a vacinação, não há outra alternativa eficaz. O Governo português deve assumir as suas responsabilidades e afirmar a soberania do nosso país, não ficando totalmente dependente da UE e procurar outras opções, adquirindo outras vacinas já aprovadas pela OMS. É o que devemos exigir ao Governo, para além do reforço do Serviço Nacional de Saúde, em defesa da nossa saúde individual e coletiva, condições indispensáveis para a recuperação económica e para a melhoria das condições de vida.

 

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