Diário do Alentejo

Quinito e o golo ao Atlético
Opinião

Quinito e o golo ao Atlético

José Saúde, jornalista

01 de abril 2021 - 15:00

A tarde estava estupenda e o sol brilhava com intensidade. Beja, nesse domingo, estava ao rubro. Os forasteiros, que eram muitos, espalhavam-se pela cidade. Os restaurantes e as casas de pasto enchiam-se de visitantes, cuja vinda à capital passava por assistir a mais um jogo de futebol. Este, porém, revestia-se com caráter de novidade. O Desportivo recebia no Estádio Dr. Flávio dos Santos o Atlético Clube de Portugal. O prélio contava para mais uma eliminatória da Taça de Portugal. Estávamos na época de 1970/71.

 

O Desportivo militava na III Divisão Nacional e o Atlético no escalão superior do futebol luso. O estádio acumulava um mar de gente que incentivava os jogadores da casa. A algazarra era enorme. Uma curiosidade importa sublinhar: o grupo de trabalho do Desportivo era constituído na base de jogadores formados no clube da Rua de Sembrano e no Despertar. Havia, no entanto, duas exceções, os casos do Saúl, um homem de Setúbal e oriundo do Vitória, e do Quinito, de Évora, sendo o Lusitano o emblema que o projetou para a fama.

 

Na preleção dada nos balneários antes do encontro, Quinito, jogador/treinador, entusiasmava a equipa com a sua eloquente convicção: vamos entrar em campo descontraidamente; jogar o jogo pelo jogo; não nos amedrontarmos com o nome do adversário que nos coube em sorte; que a bola é redonda, que tínhamos equipa para causar surpresa e ser considerada a “tomba gigantes” desta competição.

 

A missão que me coube foi marcar o Raimundo que descaía pelo flanco esquerdo, goleador do grémio de Alcântara (Lisboa), enquanto todos os elementos da equipa dividiam as suas incumbências no interior das quatro linhas. O embate foi arrebatador, o Desportivo não temeu o rival, jogou-se em todo o campo e com o avançar dos ponteiros do relógio do árbitro, lá foi marcando posição de igual para igual diante de um opositor que veio a Beja pensando que tudo eram “favas contadas”.

 

O Desportivo assumiu superioridade no interior das quatro linhas, e os golos que conduziram os anfitriões à vitória (3-1) ganharam uma consistência de tal forma que, após o términus da partida, ouviu-se um uníssono bater de palmas por parte de uma multidão que não perdeu pitada de uma tarde de soberbas emoções. Os golos da equipa paxjuliana foram da autoria do Caetano, do João Rosa e do Quinito. Quinito que marcou um golo quase do meio campo ao Gaspar, um excelente guarda-redes que transitou depois para a Académica de Coimbra, resultante de um primoroso gesto técnico que, inesperadamente, lhe saiu da cartola e em consonância com a sua deslumbrante carreira futebolística.

 

Falar de Quinito, e da sua aprimorada técnica, é trazer à ribalta um jogador que foi internacional pela seleção militar, na época de 1959/60, e que esteve várias épocas ao serviço do Desportivo, sendo também um dos impulsionadores da Associação Cultural Recreativa Zona Azul de Beja.

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