Diário do Alentejo

Aeroporto de Beja ao serviço da região e do país
Opinião

Aeroporto de Beja ao serviço da região e do país

José Maria Pós-de-Mina, gestor

26 de março 2021 - 17:00

O atual momento é propício para surgirem promessas e mais promessas sobre os investimentos que há muito se reclamam e que são fundamentais para o desenvolvimento da nossa região. Aproxima-se a passos largos um período eleitoral em que as questões locais e regionais emergem com mais força e, à boleia do processo de preparação de um novo período de programação de fundos comunitários e do denominado Plano de Recuperação e Resiliência, surge a ocasião para responsáveis políticos locais, regionais e nacionais de partidos que ocupam ou têm ocupado o Governo e têm primado pela ausência da concretização destes projetos, virem agora a terreiro, com a demagogia habitual, dizer que “agora é que é” e a defender coisas que, ao longo dos tempos, têm combatido ou, num silêncio cúmplice, têm vindo a contribuir para ser adiado.

 

É exemplo claro disso tudo o que se passa em torno do problema da mobilidade, seja a rodoviária, a ferroviária, a aérea ou a sua dimensão intermodal. Mas fica sempre de fora uma questão essencial: a do modelo de desenvolvimento. E aqui, de facto, acentuam-se as diferenças entre quem reclama uma rotura com a política de direita que tem vindo a ser adotada e que é responsável pelas dificuldades e pelos atrasos em que nos encontramos, e os que defendem uma política patriótica e de esquerda que valorize o trabalho e os trabalhadores, que valorize a produção nacional e que defenda os serviços públicos.

 

E uma das questões que alcançou uma grande centralidade nos últimos tempos é a questão do Aeroporto de Beja. Qualquer que seja a solução que venha a ser encontrada para Lisboa, considerando que a solução adequada é a de um novo aeroporto de raiz no Campo de Tiro de Alcochete, executado de forma faseada no tempo e nos custos, e não a manutenção do atual sobre Lisboa com um acrescento no Montijo, o Aeroporto de Beja, pelas suas características, pelas condições de que dispõe, pela sua localização numa posição geoestratégica entre Lisboa e o Algarve, assume no atual quadro uma importância estratégica para o país, e para a região, podendo ser uma das importantes alavancas para o seu desenvolvimento. Deve por isso ser aproveitado nas suas diversas dimensões e potencialidades.

 

Colocado como objetivo na segunda metade da década de 80 do século passado, quer no decorrer dos estudos do Plano Diretor Municipal de Beja, quer no Plano Integrado de Desenvolvimento do Distrito de Beja, o aproveitamento da base aérea para fins civis veio a encontrar expressão prática, anos mais tarde com a criação da Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja (EDAB), com a realização das obras e com o inicio do seu funcionamento com iniciativas pontuais, verificando-se uma ausência de vontade política da sua utilização, a que não é alheio o processo que entretanto decorreu de privatização da ANA que gere a rede de aeroportos com base nos critérios do lucro e não do desenvolvimento do país e do território.

 

O Aeroporto de Beja, enquanto grande infraestrutura aeroportuária, investimento público de grande valor, tem condições excecionais para ser integrado no sistema aeroportuária nacional, o que deve ser feito de imediato. Atitude que deve ser articulada com a modernização e qualificação de toda a linha ferroviária do Alentejo, a par, entre outras obras, da construção do IP8 com ligação ao aeroporto, com quatro vias, entre Sines e Vila Verde de Ficalho.

 

Para o efeito, importa mobilizar recursos financeiros, aproveitando-se a oportunidade colocada pelo Plano de Recuperação e Resiliência, pelo novo quadro financeiro plurianual, pela utilização de verbas do Orçamento de Estado e, inclusivamente, pelo recurso a crédito, tendo em consideração que o país até se consegue financiar com juros negativos. Há por isso todas as condições para, a partir de um programa de infraestruturas públicas, a partir da dinamização e diversificação a base económica, com o Aeroporto de Beja a funcionar, com uma boa rede de acessibilidades, tirar partido de todas as potencialidades e recursos existentes. A criação de uma plataforma logística junto ao aeroporto, tal como está definido no Plano Diretor Municipal de Beja, e a sua ligação à rede ferroviária e rodoviária, permitirão a instalação de novas atividades económicas e transformarão esta importante infraestrutura situada em Beja num polo de desenvolvimento.

 

A melhoria da rede ferroviária e viária é fundamental para a região, tem importância por si própria e deve ser concretizada o mais rapidamente possível. O aeroporto, nas suas diversas dimensões e valências, também tem capacidade por si próprio e para contribuir para o progresso do país e da região. Mas a interligação entre estes dois aspetos permitirá que esta região tenha uma maior capacidade de atração e, no quadro de uma política de ordenamento do território que valorize o interior, será decerto um forte contributo para ajudar Portugal a recuperar do ponto de vista económico e social, num caminho que tem de passar por opções firmes, corajosas e de médio e longo prazo. Opções que rompam com a política de direita. Opções que coloquem em primeiro lugar o interesse de vastas camadas da população e que não sejam refém dos interesses dos poderosos.

 

Ao Partido Socialista e ao Partido Social Democrata, cuja responsabilidade pela situação em que nos encontramos é partilhada, reclama-se uma mudança no seu posicionamento e o seu contributo para que, existindo projetos, se possa investir de forma séria e consequente na valorização e promoção do aeroporto, na rede ferroviária e rodoviária da região com a eletrificação e modernização do material circulante para passageiros e mercadorias, com a qualificação das estradas e a existência de uma adequada rede de transportes.

 

A nossa região não está condenada ao atraso. Temos potencialidades e recursos. Temos gente com capacidade de iniciativa e que ama a sua região. Temos a possibilidade de alcançar patamares elevados de desenvolvimento. Por isso lutaremos com esforço e com empenho. Exigindo e lutando pela concretização do que consideramos essencial. Nunca desistindo. Reclamando e propondo alternativas. Mobilizando vontades e deixando um sinal de confiança e de esperança. Haja pois vontade política para dar expressão prática ao sonho de um Alentejo melhor, com mais emprego, com mais qualidade de vida, com mais justiça, com a eliminação das desigualdades.

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