Diário do Alentejo

O 31 de Janeiro
Opinião

O 31 de Janeiro

José Saúde, jornalista

22 de fevereiro 2021 - 14:40

A história, no seu contexto geral, é um oceano de emoções! O 31 de janeiro de 1891 foi um levantamento militar que se opôs às cedências da coroa portuguesa, tendo em linha de conta que o âmago da questão era a intencionalidade que o mapa cor-de-rosa propunha. Ou seja, no mapa constava um ultimato britânico, datado de 1890, que pretendia ligar, por terra, Angola e Moçambique. Mas, o Partido Republicano, onde se destacavam célebres figuras, tais como Teófilo Braga e Manuel Arriaga, de entre outros democratas, manifestou-se contra e causou uma desordem no reino, culminando a discórdia com a chamada “Revolta do Porto”.

 

O efeito da rebelião espalhou-se por este país lusitano, os descontentamentos ganharam alma no povo e o sinal de alarme resvalou para o vício do jogo da bola, modalidade trazida (em 1888) para Portugal pelos irmãos Pinto Bastos (Guilherme, Eduardo e Frederico), que estudavam num colégio particular em Liverpool, Inglaterra.

 

Percorro as enviusadas curvas de memórias, associo a razão de tal data quando o futebol era, ainda, uma criança, mas que despontava para existência de uma circunstância que cresceu desalmadamente no tempo. Neste contexto, agarrei-me à gesta histórica lusa e trago à estampa um grupo que em Aldeia Nova de São Bento, quiçá em finais da década de 1920, se formou e cujo nome dado à equipa foi o 31 de Janeiro, sendo o seu grande impulsionador Francisco Maria Valente. Nessas antiquíssimas eras, existiam, ainda, na localidade, as formações do Enchapota, do Sem Cabeça e do Aldenovense Football Clube, agremiação onde pontificava José Morais Louro, o homem que em 1923 levou o vício do jogo para a aldeia, assumindo-se então como o principal dinamizador de um grupo de rapazes cuja tertúlia tinha lugar na Sociedade Renascença.

 

Dizem os anais das crónicas desportivas locais, que os desafios entre o 31 de Janeiro, constituído com base em jovens operários oriundos de diversos ofícios, e o Aldenovense, onde proliferavam os estudantes, eram renhidos. Num dérbi verificado nessas épocas, há um registo onde se apuraram os nomes dos jogadores das equipas e do respetivo juiz do campo. Neste contexto, trago à estampa a ficha do jogo, dirigido pelo árbitro António Bica.

 

Aldenovense – Pinheiro; Carrasco e Serrano; Jesus, Grilo e Hilário; Luís Barradas, Assis, Morais Louro, Mendes e José Barata.

 

31 de Janeiro – Lanita; Varela e Valente; Estevão, Nepomuceno e Santos; Sabala, Martins, Gustavo, Machuco e Pestana.

 

Neste desafio, a vitória (5-0) foi para o Aldenovense. O campo de jogos terá sido numa courela localizada no rossio, próxima à antiga bica onde a população se abastecia de água potável para os seus lares, sendo o espaço cedido por Morais Louro, filho de um lavrador local. Nesse recinto, impregnado de ervas daninhas, terão ocorrido vários desafios, sendo um deles contra o 31 de Janeiro. Pedaços de histórias deslumbrantes de um passado que é, tão-só, uma antítese do presente.

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