Diário do Alentejo

Escolas
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Luís Godinho, jornalista

17 de fevereiro 2021 - 12:25

Com os números da pandemia em queda e com o índice de transmissibilidade (Rt) claramente abaixo de 1 [o que quer dizer que cada doente infetado com covid-19 contagia, em média, menos do que uma pessoa, o que origina uma redução do número de novos casos e, consequentemente, de doentes internados e de vítimas mortais], consolidada esta fase, a reabertura dos estabelecimentos de ensino deve ser uma das primeiras prioridades do Governo. O estudo “Crianças em Portugal e Ensino à Distância: Um Retrato”, publicado este mês, veio desfazer quaisquer dúvidas que pudessem existir sobre a premência dessa decisão. Já iremos ao caso português. Antes, uma referência às consequências do encerramento das escolas em 2020 no Reino Unido e na Alemanha, países onde estas coisas são estudadas. No Reino Unido, o encerramento das escolas fez com que o fosso educativo dos alunos mais desfavorecidos (que era de cerca de nove meses no ensino primário e 18 no secundário) se tivesse agravado mais sete meses. “Estimativas iniciais do impacto do estudo em casa no período de confinamento apontam para um aumento do fosso entre alunos desfavorecidos e os seus pares em 36 por cento, o que equivale à perda de 10 anos de progresso na diminuição das desigualdades educativas”. Na Alemanha, o outro caso que quero sublinhar, o tempo médio que os alunos passaram a dedicar à aprendizagem caiu para metade. Sendo assim no Reino Unido e na Alemanha, em Portugal as consequências do encerramento das escolas para as famílias mais pobres serão bastante mais graves. E sendo mais graves em Portugal sê-lo-ão ainda mais em regiões mais isoladas e mais desfavorecidas, como boa parte do Baixo Alentejo. Indo em concreto ao caso português, o estudo acima citado, elaborado por um conjunto de investigadores da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), entre os quais Susana Peralta, é revelador das desigualdades do país. Alguns dados: cerca de 25,8 por cento (uma em cada quatro) das crianças com menos de 12 anos vivem numa casa em que o telhado deixa passar água, as paredes, fundações e chão são húmidos e os caixilhos das janelas ou chão estão apodrecidos. Quase 13 por cento não têm a casa adequadamente aquecida e 9,2 por cento não têm luz suficiente no alojamento. Mais de 15 por cento vive em alojamentos sobrelotados e 6,5 por cento das crianças vivem numa zona com crime, violência ou vandalismo. “As condições de habitabilidade são essenciais para o sucesso do ensino à distância”, enfatiza o estudo. São condições que, manifestamente, não existem para milhares de alunos portugueses. No caso do Alentejo, 24 por cento (leu bem, 24 por cento, cerca de uma em cada quatro) crianças sofrem de “privação habitacional” pelos mais variados motivos. Cerca de nove por cento das famílias não têm capacidade para comprar alimentos para fazer refeições completas e saudáveis. E 2,6 por cento das crianças sentiram fome, mas não comeram porque não tinham dinheiro. É com isto que estamos a lidar. Manter as escolas encerradas é cavar o fosso entre ricos e pobres. É agravar as desigualdades sociais. Reabrir as escolas, regressar ao ensino presencial, agora que a pandemia de covid-19 parece estar (novamente) controlada, é uma exigência de todos aqueles que ambicionam um país mais justo.

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