Diário do Alentejo

Zé Costa
Opinião

Zé Costa

José Saúde, jornalista

16 de fevereiro 2021 - 15:50

Relembro, com estima, um dos enormes artistas da bola por terras da princesa Salúquia, sendo ele, ininterruptamente, adepto incondicional do Moura Atlético Clube (MAC), agremiação que ajudou a fundar. José Costa nasceu na freguesia de Santo Agostinho, em Moura, a 24 de agosto de 1924 e a antiga trapeira era um dos seus “brinquedos” preferidos. Percorrendo o rumo das memórias, Zé Costa recordava, emocionalmente, a sua juventude: “Nos tempos em que me iniciei no jogo da bola havia em Moura vários grupos que aos domingos disputavam renhidos desafios”.

 

Sem perder o raciocínio que, na altura, era inegável, recuava no tempo e lembrava essas épocas de outrora: “Em Moura havia o Sempre Fixe, o Glória ou Morte, Os Onze Unidos e os Revoltosos. Nos Revoltosos jogava eu, o Miguel Serrano, o Hilário, o Carapinha, o João Peres, o João Acabado, de entre outros”.

 

Numa breve reflexão a momentos áureos, damos conta que foram esses atletas, provindos desses grupos, que estiveram na origem da fundação do grémio mourense. “É verdade. Foi precisamente esse grupo de rapazes que esteve na fundação do Moura Atlético Clube no dia 17 de janeiro de 1942”. A seguir, explanava sobre a razão que levou essa juventude a formar um clube: “Éramos uma malta porreira que gostava de jogar à bola e a nossa intenção era fundar um clube para podermos entrar nos campeonatos da Associação de Futebol de Beja (AFBeja)”.

 

Assim, com o Atlético já pronto para competir em provas oficiais, Zé Costa lembrava o local da primeira sede: “Foi na Rua da República, um espaço pequeno, mas que servia de ponto de encontro da rapaziada”. Nesse lugar, considerado de lazer, os divertimentos surgiam amiudadamente. “Na sede jogávamos ao bilhar, comíamos uns petiscos e falávamos de bola. O funcionário era o Joaquim Lobato, conhecido por Peseta, que explorava também o bar”.

 

Considerado como uma personalidade exemplar, quer no interior das quatro linhas, quer no meio social que o rodeava, Zé Costa deixava explícito que o modelo financeiro, dessas eras, é uma antítese das atuais, pois prevalecia o prazer que o jogo proporcionava: “Nessa altura não se ganhava um centavo com a bola. Só mais tarde é que os dirigentes Rui Lacerda e Henrique Fialho resolveram dar um pequeno estímulo aos jogadores. Importância que mal dava para bebermos uns copos de vinho na taberna do António Belo”.

 

Perante a espontânea visita ao baú das suas sublimes recordações, o antigo craque avançava com mais uma curiosidade: “Nesses tempos não havia balneários. Equipávamo-nos em casa e tudo era uma festa…até as camisolas interiores, compradas por nós, eram pintadas com as cores da equipa”. Com o MAC em competição, Zé Costa, assumiu-se como um jogador imprescindível da seleção da AFBeja, sendo que o Sporting, treinado então pelo inglês Kelly, endossou-lhe um convite. “A minha mãe não lhe achou jeito e eu não fui”, arrematava a velha glória do futebol mourense.

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