Diário do Alentejo

Zambujeira do Mar
Opinião

Zambujeira do Mar

José Saúde, jornalista

08 de fevereiro 2021 - 17:20

É no sublime silêncio que rodeia esta já desgastada criatura, a que se junta agora uma pandemia mundial, a covid-19, que teima em não dar tréguas ao vulgar cidadão que resiste em permanecer hirto no reino dos mortais, que desfolho livros desportivos feitos pela minha inabalável determinação, releio textos que escrevi, revejo imagens, obedeço às ascéticas vozes de pessoas que me transmitiram conhecimentos, muitas já partiram para o além, e sinto que tudo valeu a pena, tendo em conta que a história é tão-só uma narração de factos que ficarão para a posteridade numa componente erudita onde se cruzam inabaláveis emoções.

 

Navegamos, imaginariamente, a bordo de uma traineira por águas oceânicas do litoral alentejano, conduzidos por um certificado mestre a orientar o leme da embarcação, sendo que a imensidade do Atlântico abraça a missão dos aventureiros, e ancoramos em Zambujeira do Mar. É certo que o historial desportivo ali vivido foi, e é, efémero, poucos são os feitos conhecidos, mas damos conta de que ali reside uma coletividade que dá pelo nome de Associação Cultural Recreativa Zambujeirense, fundada a 4 de julho de 1981 e que militou no Campeonato Distrital do Inatel de Beja. Todavia, importa viajarmos pelas calendas do tempo, saudarmos iniciativas primárias de uma juventude que outrora desafiou o mar, o areal e as noites de luar que obstinadamente ajudaram a rapaziada a patentear-se com o prazer do chamado vício do jogo da bola.

 

Contam os mais antigos que terminada a safra de uma luta diária travada pelos homens de então, sendo a pesca uma das suas infindáveis canseiras, o jogo da bola era uma das entretengas a que muitos dos jovens se aventuravam. A praia, em noites de luar, era um autêntico desassossego. Em noitadas de maré-baixa, e com o mar a dar descanso a um areal que se assemelhava a um enviesado recinto desportivo, a rapaziada divertia-se atrás de uma bola e lá se deliciava com o deleite que o jogo propiciava. Mais tarde, organizou-se uma equipa onde os equipamentos foram comprados pelos próprios jogadores, sendo os sapatos domingueiros uma ferramenta realmente relevante, tendo em conta a proteção das solas dos pés que pisavam os espaços impregnados de nocivos objetos que causavam moça.

 

Explicita-se, com fidelidade, que o primeiro campo de futebol foi nos Alteirinhos, uma herdade pertencente ao lavrador de nome Francisco Silva. No ano de 1964 o Zambujeirense apresentou uma equipa em desafios particulares formada com base em jogadores da terra, mas constatam os seus pergaminhos que com o evoluir dos tempos levou à deserção dos atletas locais para os clubes vizinhos. Zambujeira do Mar é um lugar primoroso onde o princípio do fenómeno desportivo remonta às épocas em que a sua praia fora símbolo de colossais alegrias futebolísticas. Agora, aquela localidade é palco do famoso festival do Sudoeste, um evento musical que concentra uma juventude que entusiasticamente delira com os sons musicais.

 

Outros tempos!

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