Diário do Alentejo

Inácio Paixão
Opinião

Inácio Paixão

José Saúde, jornalista

12 de janeiro 2021 - 16:00

Inácio, Manuel e Honório Paixão foram três irmãos que espalharam perfume na arte do futebol. Citamos, com respeitabilidade, Inácio Augusto Paixão que nasceu a 7 de março de 1923, em Beja, sendo um esquerdino nato que se evidenciou no Despertar e no União. Os seus primeiros passos nos jogos de rua foram dados no largo da feira, com uma bola de trapos. Inácio Paixão iniciou-se, oficialmente, no Despertar Sporting Clube: “No Despertar joguei com os meus dois irmãos, aconteceu que depois o clube esteve inativo e como trabalhava na Metalúrgica Alentejana, onde havia um diretor do União que insistiu comigo para ingressar no clube, acedi ao convite e lá fui para o União”.

 

Na memória ocorriam-lhe os renhidos dérbis com o Luso. “Batíamo-nos muito bem com o Luso e ultimamente já lhes ganhávamos. Recordo um troféu ganho pelo União, a Taça Dr. Covas Lima, numa final em que vencemos com justiça”. Recorrendo às suas reminiscências, constata-se que Inácio cresceu no seio de uma família predestinada para o futebol. “A minha família era toda amante do futebol. O meu pai foi, por várias vezes, dirigente do Despertar e nós desde pequenos que adquirimos o gosto pela bola. O meu irmão Manuel foi cumprir serviço militar para Évora e por lá ficou no Lusitano, enquanto o Honório esteve no Desportivo de Beja durante várias épocas. Eu terminei a carreira mais cedo”.

 

Na década de 1940 a magia do fenómeno futebolístico encantava um povo carente de outros valores afetivos. O jogador/trabalhador, que vendia a força do seu trabalho, em particular no setor das oficinas que proliferavam então na urbe, suava a camisola a troco de… nada. Neste contexto, Inácio Paixão lembrava esses antiquados tempos: “Era tudo diferente. Jogava-se e ninguém ganhava um tostão”. Numa viagem pelas memórias da antiga glória, ocorria-lhe a existência de emblemas residentes na cidade. “Em Beja existiam cinco clubes: o Luso, o União, o Pax Júlia, o Sport Lisboa e Beja e o Despertar”.

 

Viajava-se de comboio e o antigo futebolista lembrava uma visita a Moura, sendo o adversário o Atlético local, acentuando um facto protagonizado por um companheiro de equipa: “Numa dessas viagens a Moura aconteceu uma coisa interessante, o Justino Baião, que não foi connosco no comboio, fez a viagem de Beja a Moura de bicicleta para fazer o jogo. Veja-se como as coisas funcionavam nessa altura”.

 

Ficou também na história que Inácio Paixão rumou um dia a Faro, onde mostrou as suas excelentes qualidades: “Em 1944 eu, o Zé Sardinha e o Zé Bita fomos treinar ao Farense, mas acabámos por não ficar”. A jeito de despedida destacava que João Alves, Melo Garrido e Bento do Carmo foram os dirigentes desportivos que mais o cativaram no União.

 

Arremato a crónica com um onze do União na época de 1944/45: Bota, Justino Baião, Manuel António, Batista, Janeiro, Mateus Pereira, Carlos Aleixo, Delca, Manel Ameixa, João Ameixa e Inácio Paixão.

Comentários