Diário do Alentejo

2021
Opinião

2021

Luís Godinho, jornalista

11 de janeiro 2021 - 17:30

Para quem, em março de 2020, tinha a ilusão que a pandemia de covid-19 seria problema para estar resolvido num curto espaço de tempo, ou mesmo para quem, já em pleno verão, quando os números de novos casos e de internamentos baixaram de forma considerável, alimentava a esperança de um rápido regresso à dita normalidade, aí está 2021 a demonstrar que ainda teremos de conviver com o novo coronavírus por muitos meses. Ou mesmo anos, se à crise de saúde pública somarmos as consequências económicas, e sobretudo sociais, decorrentes da resposta à crise pandémica. O que os primeiros dias do ano expuseram com toda a clareza foi uma pressão crescente sobre os serviços de saúde - mais doentes internados e mais doentes em unidades de cuidados intensivos – acompanhada de um crescimento exponencial do número de infeções (o indicador que define o grau de transmissibilidade de infeção, denominado Rt, voltou a estar acima de 1,2 no Alentejo), de novos surtos em lares e de mais mortes, de que o caso do professor Joaquim Tadeu, falecido na passada terça-feira, dia 5 de janeiro, é um triste exemplo. Joaquim Tadeu, a quem a cidade de Beja e a região tanto devem na promoção do Cante alentejano nas escolas, estava internado há três semanas na unidade de cuidados intensivos do hospital de Beja. Tinha 50 anos. Sim, caro leitor, leu bem: 50 anos. Sendo verdade que a grande maioria das mortes por covid-19 ocorre nas faixas etárias mais elevadas – das 7300 mortes contabilizadas pelas autoridades de saúde, cerca de cinco mil são de pessoas com mais de 80 anos – não deixa de ser importante sublinhar que o número de vítimas com menos de 60 anos tem igualmente vindo a crescer. Numa altura em que tantos comentadores, até da área política, descobriram a sua vocação de epidemiologistas e nos brindam diariamente com palpites sobre a melhor forma de fazer frente à covid-19, julgo que o mais importante não estará em saber se já entrámos ou não na terceira vaga da pandemia, mas em adotarmos um compromisso de responsabilidade no sentido de travar novos contágios, na medida do que nos for possível fazer de forma individual. Corremos sérios riscos de o que se passou esta semana no hospital de Évora, que esteve durante vários dias sem capacidade para receber novos doentes com covid-19, aumentando a pressão sobre outras unidades de saúde, como Beja, poderá não ser um episódio pontual, mas um indício das dificuldades que se adivinham no próximo futuro. As vacinas, que já chegaram ao Baixo Alentejo, irão certamente ajudar a impedir o surgimento de surtos nos locais onde eles são mais perigosos: os lares de idosos. Mas ainda demorará meses até que estejam vacinados todos os idosos e todas as pessoas de risco. Só nessa altura poderemos começar a aliviar medidas e a pensar no tal regresso à normalidade. À família, em particular aos dois filhos, e aos amigos de Joaquim de Tadeu, o “DA” apresenta as mais sentidas condolências.

 

O mais importante não estará em saber se já entrámos ou não na terceira vaga da pandemia, mas em adotarmos um compromisso de responsabilidade no sentido de travar novos contágios

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