Diário do Alentejo

Liberdade e responsabilidade
Opinião

Liberdade e responsabilidade

Vítor Encarnação, professor

24 de dezembro 2020 - 12:00

Há muito mais adeptos da liberdade do que da responsabilidade. Fossem elas coisas autónomas, distintas, e a escolha seria apenas o fruto de uma preferência, o resultado da autodeterminação do pensamento. Quero uma e não quero a outra, vivo bem com a primeira, convivo mal com a segunda.

 

O problema fundamental reside na absoluta impossibilidade de as separar. Seja por estratégia, por deformação intelectual, ou mera ingenuidade, por muito que tentemos, numa sociedade justa e equilibrada, numa mente reta e assertiva, isso não é possível, pois quando se cunha uma de um lado, cunha-se a outra do outro lado. Quando nos dão uma, dão-nos a outra, quando conquistamos uma, é-nos entregue a outra. A liberdade é apetitosa, é uma abstração que se pensa como uma coisa doce, leve, solta, que nos dá independência, concede autonomia, permite o livre arbítrio, promove os direitos.

 

A responsabilidade é aborrecida, é uma concretização do limite, é o peso de termos de decidir, a maçada de termos de pensar nos outros e em tudo o que nos rodeia, o enfado das regras, a chatice de não podermos abusar do nosso ego, o tortuoso caminho dos deveres. Explicar que uma não vive sem a outra, que uma não nos permite viver sem a outra, é o desafio de pais, de professores, de políticos. Não há moedas de uma só face. A liberdade é a coisa sonhada. A responsabilidade é o corpo desse sonho.

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