Diário do Alentejo

Back Lourinho
Opinião

Back Lourinho

José Saúde, jornalista

24 de dezembro 2020 - 10:00

 

No universo da bola existem ícones que marcaram gerações. De estatura atirada para o baixo, mas possuidor de uma enorme habilidade, “Back Lourinho”, alcunha que lhe fora atribuída pelos companheiros de infância, foi uma das grandes referências do fenómeno futebolístico bejense. “Tinha para aí uns seis anos quando comecei a jogar com os moços da rua. Os jogos eram com uma bola de trapos. Jogava na defesa e tinha cabelos louros, daí surgiu o apelido de “Back Lourinho”.

 

António José da Conceição Marques nasceu em Beja a 25 de julho de 1923 e controlar, com magia, a velha trapeira fora algo que os moçoilos do seu tempo cedo admiraram. Narra a história que os clubes da cidade travaram uma luta renhida para adquirirem a “estrela” que despontava no firmamento futebolístico bejense. Porém, seria o Luso a levar a melhor sobre os seus diretos adversários. Com 16 anos teve a difícil missão de substituir o velho capitão de equipa, “Xaxinha”, o famoso “tio” Firmino. Contudo, o jovem não jogou a toalha ao chão, assumiu-se como titular do Luso e a sua carreira foi pautada pela qualidade.

 

Há momentos em que os atletas reveem o seu copioso passado, mormente quando os jogos eram disputados a troco de “feijões”. “Numa ocasião os tipos do Largo da Creche iam defrontar um outro bairro da cidade, e a sua aposta foi chamar o “Back Lourinho”... eu joguei, ganhámos e o prémio de jogo foi meia dúzia de bolos do Luiz da Rocha que custavam meio tostão”. Estes depoimentos, deveras interessantes, ficarão registados para a posterioridade, pois, em boa hora, este vosso articulista angariou legados que persistem levar ao leitor hilariantes espólios de um passado simplesmente memorável.

 

Um outro à parte curioso de “Back Lourinho” passou pelo primeiro contacto com uma bola de couro e “calçar umas botas à maneira”. Neste contexto, avançava: “Nesse tempo apareceu em Beja o Óscar, neto do Luiz da Rocha, que formou um grupo onde me integrei. Esse rapaz tinha umas botas de cabedal, coisa rara na época, sendo que acabei por lhas comprar”. No Luso, pela mão do “tio” João Salgado. “O João Salgado foi-me buscar um dia ao largo da feira, mas eu pirei-me. Numa outra ocasião apareceu-me com um chicote na mão, não tive oportunidade em fugir e levou-me a mim e o Zé Sardinha para o Luso”.

 

Convites para representar outros clubes não faltaram: “Quando fui trabalhar para Lisboa tive convites do Atlético, Sacavenense, Sport Lisboa e Olivais e ainda do Oriental, mas recusei”. Já com a fusão entre o Luso, União e Pax Júlia consumada, “Back Lourinho” jogou, ainda, no Desportivo e deixou registado um dado curioso: “Só comecei a ganhar dinheiro no futebol no tempo do treinador Camiruaga. Mas nunca concordei com esse sistema. Daí que me tivesse transferido para o Despertar quando Francisco de Assunção era o presidente”. E foi ao serviço das cores despertarianas que “Back Lourinho” se despediu do desporto-rei!

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