Em artigo de opinião publicado no "DA" de 4 do corrente, o Sr. Padre Manuel António do Rosário, presidente da Comissão de Arte Sacra da Diocese de Beja, entidade que sucedeu ao Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (Dphadb), tece algumas considerações acerca deste organismo que merecem reparo.
O Dphadb, como o seu nome indica, integrou a estrutura funcional e hierárquica diocesana, não dispondo de autonomia e estando sujeito às orientações superiores. Por isso, foram as instâncias que podiam fazê-lo, não o Dphadb, quem estipulou o depósito temporário, no Seminário de Beja, de determinadas obras de arte, por motivos de conservação ou segurança.
Os locais onde estavam depositadas essas peças, à guarda do Seminário – espaços devidamente identificados, tal como o que neles se acautelava –, foram os indicados pelo Sr. Padre Manuel António, quando desempenhou as funções de reitor da instituição, ou pelos seus diversos sucessores. O Dphadb nunca exerceu qualquer gerência nas instalações do Seminário, nem teve debaixo da sua alçada espaços a ele pertencentes, nem tomou decisões sobre recintos e acervos. Estranha-se, por isso, que lhe sejam cometidas responsabilidades acima da sua esfera de intervenção.
Dos oito museus da Diocese de Beja existentes à data de extinção do Dphadb, o único sob a tutela deste organismo era o Museu Episcopal de Beja, que funcionava na igreja de N.ª Sr.ª dos Prazeres. O Dphadb colaborou também estreitamente com o Museu de Arte Sacra de Santiago do Cacém, fundado pela Diocese em 1988 e administrado pela paróquia local, já que integrava a sua direção, presidida pelo pároco.
À data de extinção do Dphadb, encontravam-se em preparação, na Diocese, três exposições: duas em Beja, uma no Museu Episcopal e outra na Igreja de N.ª Sr.ª ao Pé da Cruz; e uma terceira no Museu de Arte Sacra de Santiago do Cacém. Estas exposições integravam peças oriundas de paróquias, museus (entre eles o do Seminário) e coleções, cujo empréstimo fora autorizado. Peças de misericórdias, havia, não várias, como se diz no artigo, mas apenas uma, cedida temporariamente, para aquele efeito, pela Santa Casa de Vidigueira.
Quando o Dphadb fez a entrega, aos responsáveis para tal apontados, das instalações a seu cargo, entregou igualmente relatórios e outros documentos em que estão identificadas essas peças, com a indicação da tipologia, localização/secção, propriedade, etc. Como é habitual em instituições museológicas, procedeu-se à conferência de espaços, equipamentos e peças, sendo assinados, pelos responsáveis designados para o efeito, os respetivos termos. A Diocese esteve sempre a par, por conseguinte, do que existia nos seus museus de Beja e Santiago do Cacém, pelo que a tarefa realizada pela Comissão de Arte Sacra, em 2020, não terá sido propriamente a de “encontrar” algo desaparecido, como um leitor menos atento poderá inferir do texto do Sr. Padre Manuel António: essas peças estavam guardadas em instalações da Diocese, constando de listas conferidas por peritos.
A intervenção da antiga equipa do Dphadb cessou, naturalmente, a partir do momento em que, feita aquela entrega, os novos responsáveis entraram em funções, tomando as decisões que entenderam mais adequadas. Se, extinto o Dphadb, as exposições que estavam a ser montadas em Beja e Santiago do Cacém não foram prosseguidas e não se procedeu, até agora, à devolução das peças solicitadas, isso não pode ser assacado aos anteriores responsáveis, que concluíram as suas funções quando acabou o Dphadb e fizeram a transmissão dos assuntos, chaves, dossiês, etc., a quem lhes foi indicado.
Por outro lado, a apresentação de obras de arte em exposições foi precedida, como se impunha, pela autorização das entidades suas proprietárias, fazendo-se o registo por escrito, em impressos próprios da Diocese, das movimentações realizadas.
Dito isto, são conhecidas as circunstâncias em que, cumprir-se-ão brevemente quatro anos, findou o Dphadb. Há muito que ele pertence ao passado. Quanto à Comissão de Arte Sacra que se lhe segue, com objetivos e metodologias distintos, tem o futuro à frente. Se é certo que a transição entre um e outro organismo não correu da melhor forma e terá ferido, injustamente, pessoas que deram o seu melhor à causa do património regional anos a fio, por vezes no meio de grandes dificuldades, eu, da minha parte, tendo regressado a Lisboa ainda há mais tempo (na transição do governo de D. António Vitalino Dantas para o de D. João Marcos, vai para cinco anos!), nunca fechei a porta ao diálogo e, mesmo estando um pouco longe, procuro sempre colaborar com as paróquias da Diocese que continuam a pedir o meu apoio para conservarem os seus monumentos. Os demais membros do ex-Dphadb não pensarão, creio, de modo muito diferente.
Os tempos difíceis que vivemos impulsam à construção de pontes, não de abismos. Apreciei a referência feita pelo Sr. Padre Manuel António ao discernimento: sem ele, que seria de nós?