Diário do Alentejo

Absoluta sapiência
Opinião

Absoluta sapiência

Vítor Encarnação, professor

12 de dezembro 2020 - 14:10

Pai, acho que já não preciso de ir à escola, aliás, ir lá é tempo perdido, os professores teimam em falar de história, de filosofia, de matemática, de ciências, de humanidades, de poesia, insistem em pedir que pensemos, que interpretemos, que argumentemos, que cheguemos a conclusões, não há paciência, quem é que necessita de saber o que era a polis grega, o exercício da cidadania, as liberdades individuais e as obrigações públicas, a democracia e as ditaduras, o comprometimento e a ética, os princípios certos das ciências, a generosidade do humanismo, a importância da palavra, cinquenta minutos, às vezes cem, imagina tu, a sofrer com estes assuntos desnecessários, os professores a quererem à força que eles tenham a ver com a vida, e nós ali, tão jovens, na flor da idade, presos, obrigados a escutar, um dia após outro, às vezes até nos obrigam a ler um livro, quem é que aguenta uma tortura destas, bem fizeste tu em deixar a escola cedo, lá não se aprende nada, melhor é a escola da vida, melhor ainda é ter um telemóvel e ir às redes sociais, lá é que se aprende, fico espantado com a sabedoria que por lá encontro, mesmo com erros toda a gente percebe, tomara os professores saberem metade daquilo que algumas pessoas lá escrevem, os professores pensam que estão a fazer uma fineza, com o livro à frente também eu, com as botas do meu pai também eu era um homem.

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