Diário do Alentejo

Mateus Pereira
Opinião

Mateus Pereira

José Saúde, jornalista

12 de novembro 2020 - 14:35

Aljustrel é uma localidade onde a magia do futebol sempre fascinou as suas gentes. No desativado Campo das Minas, situado lá para as bandas de Vale da Oca, um bairro que fora construído para alojar as famílias dos mineiros, despontaram craques que levaram ao púlpito o nome da terra. Viajando pelos anos de 1940 e 1950, do século passado, damos conta que a atividade desportiva congregou colossais paixões.

 

Vasculhando conteúdos desportivos, eis-nos a evocar António Lourenço Pereira, sendo Mateus um apelido herdado de seu pai. Mateus Pereira, como foi conhecido, nasceu em Albernoa a 31 de dezembro de 1918, sendo figura sonante no cosmopolita universo da bola. A ida para Aljustrel prendeu-se com o facto do seu pai, industrial de moagem, arrendar uma fábrica do ramo naquela vila, após uma passagem por Oeiras.

 

Chegado à localidade mineira, com 10 anos, logo começou a participar em jogos de rua. Mateus Pereira iniciou-se num grupo popular de nome “Sempre Fixe”, mas, com o evoluir do tempo o “Sempre Fixe” extinguiu-se e o rapaz juntou-se a um grupo de aventureiros e fundaram o Vitória Futebol Clube, um grupo que se filiou no Vitória de Setúbal, uma vez que o equipamento utilizado pelos moços aljustrelenses era idêntico ao da coletividade localizada na foz do rio Sado.

 

Francisco Vargas levou-o, um dia, a treinar no União de Beja, sendo Melo Garrido o treinador do conjunto bejense, e o técnico, deslumbrado com as suas distintas capacidades futebolísticas, logo lhe propôs a assinatura de um compromisso com a equipa da antiga Pax Julia. Mateus Pereira tinha 18 anos quando chegou ao União e só de lá saiu quando o seu bilhete de identidade registava 29 risonhas primaveras. A sua classe a jogar, e a notável perícia de goleador, levou-o a titular da seleção da Associação de Futebol de Beja, sendo que nessa triagem distrital destacavam-se Manel Trincalhetas, Carlos Aleixo, Manel Ameixa, Sardinha, Apolinário, Lampreia Lopes, Zé Valente, Zé Costa e Peres, de entre outros companheiros.

 

Das viagens entre Aljustrel e Beja ficaram registos dignos de esplêndidas narrações: “Quando viajava de comboio chegava a Beja por volta das duas da manhã e passava a noite no Hotel Bejense. Era uma noite perdida. Preferia fazer a viagem de bicicleta”. E num rebobinar desses gloriosos tempos, o saudoso Mateus Pereira recordava uma especial proeza: “Um dia disputava-se a final da Taça Dr. António Covas Lima entre o União e o Luso, em Beja, só que eu, sempre cumpridor dos meus deveres, descuidei-me e a passei a noite de sábado no baile. O meu companheiro da noitada foi o Geada, que jogava no Despertar, e que me incentivou a ir jogar. Fomos os dois de bicicleta, o União ganhou ao Luso por 2-0 e eu marquei os golos”.

 

Na fase final da carreira Mateus Pereira jogou no Mineiro Aljustrelense. Era assim a fibra dos homens de antigamente no maravilhoso mundo desportivo.

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