Diário do Alentejo

Monge da Silva
Opinião

Monge da Silva

José Saúde, jornalista

25 de setembro 2020 - 10:15

No rol de dificuldades com que o escriba amiúde se confronta, e as voltas que a lei da vida lhe permite dar, insistimos em arquitetar textos que facultam enaltecer nobres personagens que o mundo do desporto coloca na sua cúpula. Da nossa cândida região, Baixo Alentejo, têm saído individualidades que o cosmos desportivo perpetuamente recordará. Falo, com elevação e dignidade, de David Manuel Monge da Silva, nascido em Aldeia Nova de São Bento a 18 de novembro de 1947.

 

O seu currículo é, de facto, invejável. Recordo, quando éramos jovens estudantes, passarmos as chamadas férias grandes na nossa aldeia e as tardes dos futebóis no Rossio, lugar onde se realizava a então feira anual de setembro. Recordo-me dos desafios, sim desafios porque se tratava de jogos particulares em que o Atlético convidava, ou era convidado para defrontar equipas de localidades vizinhas. Recordo-me de, aquando de uma espontânea visita à terra que me vira nascer, assistir aos jogos no campeonato distrital de Beja da antiga FNAT, hoje Inatel, e o David apresentar-se seguro na função de capitão de equipa.

 

Mais tarde, finais de setembro de 1974, organizámos um dérbi em Ficalho e essa foi, inesquecivelmente, a essência para colocar o Atlético Aldenovense nas competições seniores da Associação de Futebol de Beja. Expor-me em trazer à ribalta o percurso de Monge da Silva é, quiçá, um risco elevado. Licenciado em Educação Física pelo INEF, Lisboa, curso que terminou em 1970, Monge da Silva exercitou a sua arte em estabelecimentos de ensino oficiais, transitando, ‘a posteriori’, para o futebol profissional.

 

Selecionou no Instituto Superior de Educação Física a teoria da metodologia do treino, desempenhando, ainda, o cargo de coordenador do Gabinete de Metodologia do Instituto Nacional de Desporto. A 21 de janeiro de 1980, a direção do Sport Lisboa e Benfica contratou-o como preparador físico da equipa. Iniciou-se no Estádio da Luz com o treinador Mário Wilson, seguindo-se Lajos Baroti, numa época em que o Benfica conquistou o campeonato, a Taça de Portugal e a supertaça. Estudioso do treino desportivo, bem como de todo o caráter metodológico, o professor ganhou fama, sendo que a sua exímia experiência regista passagens pelo Vitória de Setúbal, Portimonense, Belenenses e Estrela da Amadora.

 

Foi professor universitário de história de desporto da Universidade Autónoma de Lisboa, para além de passagens por outras modalidades, designadamente nas seleções de futebol, judo, andebol, halterofilismo e hóquei em patins, sendo autor de várias obras e palestras na área desportiva.

 

Monge da Silva foi, é e será uma personalidade muito estimada, não só a nível nacional como internacional e requisitado para opinar profundos conhecimentos pelos “quatro cantos” do mundo. O nome de Monge da Silva ficará, exclusivamente, ligado à evolução do treino em Portugal, sendo também o autor do prefácio do livro “Aldenovense Foot-Ball Club ao Aldenovense Atlético Clube 1923/2016”, da autoria deste já usado contador de histórias desportivas.

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