Diário do Alentejo

Agricultura
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Luís Godinho, jornalista

20 de agosto 2020 - 11:00

Assinado por Tiago Domingues e Ricardo Pinheiro Alves, o trabalho encontra-se publicado na página de Internet do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e dá-nos uma visão sobre como a agricultura portuguesa evoluiu nos últimos 10 anos, tornando-se mais competitiva à escala global. “Competitividade e cadeias de valor no setor agroalimentar e agroflorestal português” é o nome do estudo, onde se reúne uma serie de indicadores económicos que permitem medir esse ganho de competitividade da agricultura portuguesa e aferir a sua crescente integração nas cadeias de valor global.

 

Os autores são claros: "As condições de competitividade da economia portuguesa baseadas no preço melhoraram na última década, refletindo-se no crescimento das exportações e na melhoria da balança comercial". Mas, sublinham, a crescente importância da qualidade e dos efeitos ambientais associados à produção e comercialização "está a levar a um processo de diferenciação dos produtos, o que aumenta a importância dos serviços no valor acrescentado ".

 

É uma tendência que inevitavelmente se irá acentuar nos próximos anos, até porque a redução da utilização de pesticidas em 50 por cento e a expansão da agricultura biológica para, pelo menos, 25 por cento do terreno agrícola total da União Europeia são metas para alcançar até 2030. O que Tiago Domingues e Ricardo Pinheiro Alves demonstram é que essa mudança de paradigma, em muitos aspetos associada à expansão do regadio, mas não só, já começou, refletindo-se em diversos indicadores, a começar pelos bancários: o financiamento ao setor agroalimentar entre 2010 e 2020 cresceu 33 por cento, passando de 1,9 para 2,4 mil milhões de euros, em contraciclo com os empréstimos concedidos ao conjunto das empresas portuguesas que, no mesmo período, “caiu” cerca de 43 por cento.

 

A agricultura tornou-se atrativa para a banca o que se explica de forma simples: a percentagem de crédito mal parado nas empresas agrícolas é baixo, é de três por cento, muito abaixo dos 4,6 por cento para a generalidade das empresas nacionais. “O nível do crédito malparado na posse do sistema bancário foi menor no setor primário”. Com o custo de financiamento mais baixo – o que não tem necessariamente reflexos na competitividade externa pois a queda das taxas de juro foi comum a vários países – e com os da energia a apresentarem também uma tendência decrescente, os custos do trabalho cresceram, num aumento associado às subidas do salário mínimo mas também à redução do número de trabalhadores no setor: menos 214 mil na última década.

 

Outra alteração significativa prende-se com o crescimento das exportações, “significativamente superior” ao das importações. “Desde 2010, as exportações cresceram 67,5 por cento, enquanto as importações cresceram 38 por cento (…) Desta forma, Portugal reduziu significativamente o défice comercial estrutural no setor”, refere o estudo. Aqui chegados, as apostas para os próximos anos parecem claras: um novo plano de investimentos que valorize as diferentes culturas nacionais, apoie a modernização tecnológica das empresas agrícolas e incentive a transição para uma agricultura ecológica e sustentável.

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