Tenho consciência que o que hoje escrevo será impopular e em alguns casos incompreendido, mas faço questão de dizer sempre o que penso e não o que as pessoas querem ouvir. Há assuntos demasiado sérios e importantes para servirem a ilusão e o populismo. O aeroporto de Beja é um desses casos, e nos últimos anos tenho assistido a muita intoxicação, mentira, falsidade, falácia e, sobretudo, ignorância, sobre um projeto que merece uma abordagem inteligente e afirmativa do seu valor intrínseco. Aos poucos vamos percebendo porquê...
Para contextualizar: conheço muito bem o projeto do aeroporto de Beja, desde a sua fundação. Fui assessor do secretário de Estado Adjunto e dos Transportes, Rui Cunha, na altura em que se deu inicio ao processo de constituição material da Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja, após uma decisão política indiscutível do anterior ministro Jorge Coelho. Sei, como poucos, mesmo muito poucos, como decorreram os processos, que pareceres e estudos inviabilizavam a possibilidade de criação de um aeroporto em Beja e que fundamentos deram força à sua execução.
Nada disto faz de mim alguém especial em relação a quem quer que seja, mas sei do que falo e isso é bem mais credível do que as palavras e os devaneios de quem desconhece em absoluto o que se passou e passa em relação a esta infraestrutura. Não falo por adivinhação, nem defendo argumentos de “mesa de café”! Sou dos grandes e primeiros defensores do aeroporto de Beja, sempre o serei!
Mas vamos ao que interessa: o aeroporto de Beja é viável e terá longa vida se se assumir como uma infraestrutura aeroportuária complementar no contexto de aeroportos nacionais e internacionais existentes. Não pode ser alternativa a nenhum aeroporto existente, muito menos ao de Lisboa. Não tem condições para tal, nem se assume como viável ter essas condições em menos de 20 anos! Nem a região tem essas capacidades – de acolhimento, de absorção e de escoamento. É demasiada ilusão e ignorância. É utópico!
O Aeroporto de Beja deve servir as necessidades aeroportuárias nacionais e internacionais de 1) carga; 2) manutenção e 3) de passageiros (em fase mais adiantada e gradual, mas nunca massivo)! É aqui que está a sua mais-valia, para se afirmar como projeto relevante, merecedor de investimentos e de aposta política num plano estratégico para o futuro, capaz de criar emprego, gerar desenvolvimento económico e permitir à região um posicionamento estratégico numa perspetiva ibérica e europeia. E estou convencido que assim será! É irreversível!...
Mas as teorias podem existir sempre, nada de mal em alimentar esperanças, mesmo que vãs… O que me preocupa de facto é que, ao se defender a possibilidade de tornar este aeroporto como alternativo ao de Lisboa, se está a desenvolver um ataque fatal à concretização do verdadeiro projeto e do valor intrínseco que realmente tem e que está na sua génese! Podemos querer ir atrás das ilusões porque essas nos alimentam a esperança, mas devemos optar antes pelo conhecimento, pela inteligência e pela verdade fundamentada, como elementos de defesa das nossas ambições. Defender que aqui se alicerce o futuro aeroporto de serviço da capital tem tanto de demagógico como de perigoso. Alimenta a nossa esperança vã, mas beneficia em tudo os interesses daqueles que nunca quiseram nem querem o aeroporto de Beja a funcionar.
Ora, posto isto, e como elemento desestabilizador e irresponsável, surge agora a ministra da Coesão Territorial a defender tal possibilidade. Fá-lo, na minha perspetiva, com bastante ignorância do projeto e da região, o que me desanima. Uma pasta que podia ser tão útil à valorização das regiões e do interior transforma-se em algo incapaz e confuso. Na primeira leitura julguei tratar-se de uma prova de vida política, depois de reler a notícia percebi que o que está em causa é muito mais grave, é mesmo incompetência e ligeireza. Um género de “bitaites” atirado ao ar… um perfeito disparate que seria inconsequente, não fosse a vontade, de muitos, de dar força a esta ideia destrutiva do nosso aeroporto! Mesmo que a argumentação da ministra não tenha nem fundamento técnico, nem calendarização que a viabilize… nada, apenas fogo!
Quanto à senhora ministra, que venha, por bem, para nos conhecer, para entender o que esta região tem de valor e capaz de servir os interesses nacionais, conhecer os reforços e complementaridades dos diversos projetos executados e a executar, e perceberá então o que é o aeroporto de Beja!