Diário do Alentejo

Mais vale tarde do que nunca, ou antes cedo do que tarde?
Opinião

Mais vale tarde do que nunca, ou antes cedo do que tarde?

José Maria Pós-de-Mina, gestor

02 de agosto 2020 - 18:00

Mais vale tarde do que nunca, é uma expressão popular muito usada. Podíamos utilizá-la para assinalar a abertura de troço da A26 ao público, anos após a conclusão da obra e cujo processo revelou a forma como os governos do PSD/CDS e do PS têm tratado a nossa região.

 

Podíamos referi-la a propósito da indispensável ligação entre o Alqueva e o Monte da Rocha que o Partido Socialista recusou no passado e vem agora proclamar como uma obra importante (e de facto é) para contribuir para melhorar a gestão dos recursos hídricos na região.

 

Podíamos usá-la abordando a posição de responsáveis do Partido Socialista que referem agora como necessária a construção do IP8 entre Sines e Vila Verde de Ficalho, quando todos sabemos que este partido tem ignorado esta pretensão perfeitamente legítima e pertinente. Tal como não tem concretizado a eletrificação da linha ferroviária entre Casa Branca e Beja e a retomada das ligações entre Beja e Funcheira.

 

Podíamos repeti-la acerca do posicionamento do PSD no distrito quando agora reconhecem que é “um facto que o PSD não deu expressão àquilo que eram as necessidades da região entre 2011 e 2015 em matéria de acessibilidades” tentando depois distrair as atenções com a confusão entre o que são responsabilidades autárquicas e o que são responsabilidades por políticas nacionais e regionais.

 

E podíamos também recordá-la com toda a propriedade citando o que vem escrito no documento da autoria de António Costa Silva denominado “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação” que na sua página 21 refere que “o modelo de desenvolvimento económico e social atual, baseado no consumo exponencial de recursos, na concentração da riqueza, no aumento galopante das desigualdades e na crescente destruição ambiental, não é sustentável e deve ser mudado”, ou na página 75 onde afirma que “as visões liberais extremistas que prevaleceram no passado conduziram o País à perda de grande parte da sua indústria e a um certo culto de desprezo pelos recursos nacionais”.

 

Pois é, o tipo de afirmações citadas, estão em linha com tudo o que o PCP tem criticado e com o que o PCP tem proposto para a região e para o País. É o que alguns referem como ter razão antes do tempo.

 

Mas o que se impõe na atualidade é de facto uma rotura com a política de direita e cujas consequências agora desveladas e agravadas pelos efeitos da pandemia se tornam mais evidentes. Uma política que assente no aproveitamento dos recursos e potencialidades locais. E que passe pela conjugação de medidas imediatas que devem ter expressão na elaboração de um Plano de Emergência Económica e Social que salvaguarde direitos e rendimentos, que ataque as principais debilidades e carências da região, e pela elaboração de um Plano de Apoio à Base Económica, aliado a um Programa de Infraestruturas Públicas que garante o nosso futuro concretizando investimento fundamentais. E para isto não se deve aplicar o “mais vale tarde do nunca”. Porque não podemos perder mais tempo, o que se impõe é o “antes cedo do que tarde”.

 

Antes cedo do que tarde para concretizar: o IP8 em toda a sua extensão entre Sines e Vila Verde de Ficalho, com quatro vias e sem portagens e priorizando desde já a ligação a Beja, com interligação ao aeroporto; a melhoria geral das acessibilidades no distrito e a melhoria da mobilidade repondo desde já todas as carreiras de transporte rodoviária interrompidas e alargando-a a novas ligações permitindo a deslocação em adequadas condições sanitárias e de segurança; a eletrificação da linha ferroviária entre Casa Branca e Beja (incluindo nó de ligação ao aeroporto) e posteriormente entre Beja e Funcheira, com reposição de ligações e assegurando assim uma adequada ligação da região com Lisboa e o Algarve; o aproveitamento do aeroporto como infraestrutura fundamental para o desenvolvimento do distrito e da região; a construção da segunda fase do hospital distrital de Beja, a melhoria gradual dos centros de saúde e a reabertura das extensões que foram indevidamente encerradas; e a realização de intervenções de melhoria da rede escolar, a nível das instalações e dos equipamentos incluindo as redes digitais.

 

Estes são apenas alguns exemplos, pois muito mais há a fazer. E para os concretizar devem ser mobilizadas as vontades e os recursos indispensáveis. E o plano de recuperação até pode ser um importante instrumento. É pena que na sua primeira versão as tenha ignorado. Mas nós cá estamos para os lembrar e para lutar pela sua concretização.

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