À semelhança de Sofia Melo, Catarina Gaspar considera que “a procura [de apoio] é inferior às necessidades”. E aponta como um dos fatores “o facto de a consulta ser gratuita, o que pode levar a dúvidas quanto à qualidade da mesma”. Todavia, garante, “a gratuitidade da consulta deve-se ao trabalho voluntário de psicólogos qualificados e com formação em Psico-oncologia que disponibilizam o seu tempo e os seus conhecimentos, a título gratuito, às pessoas que procuram a LPCC”. Catarina Gaspar também é da opinião de que “o estigma associado à psicologia ainda condiciona o recurso à consulta por parte de doentes, familiares e até mesmo profissionais”. “Há muitas pessoas que se consideram pessoas fortes e, por isso, recusam este apoio, sujeitando-se a realizar todo um percurso desacompanhados. Todavia, o recurso ao apoio disponibilizado na LPCC ou noutras instituições não é sinal de maior fragilidade. Reconhecer a necessidade de conversar sobre o que sentimos, procurar alguém que nos ajude a pensar ou que simplesmente nos oiça, sem julgar, é um sinal de força e não de fraqueza. Só ao investirmos em nós conseguiremos vivenciar um momento difícil de forma ajustada”, diz.
Telma Graça, psicóloga responsável pela consulta da delegação de Mértola, diz, por sua vez, que “a expetativa seria que mais pessoas procurassem este serviço”. Para chegar “ao maior número de pessoas possível”, a delegação acabou por fazer a sua divulgação “das mais variadas formas, incluindo em todas as sedes de freguesia do concelho. Em quase três anos, a unidade de Mértola realizou cinco consultas, relativas a duas doentes, uma diagnosticada com cancro de mama e outra com cancro de ovários, com idades entre os 40 e os 65 anos.
Apesar “de não existir um número significativo de atendimentos”, Telma Graça diz que o “balanço é positivo”, porque deram “resposta a todos os pedidos que nos chegaram”. E porque “esta resposta existe no Serviço Nacional de Saúde, essencialmente, nas fases em que o doente de encontra em tratamentos”, as duas doentes que ocorreram à unidade de Mértola, diz a responsável, fizeram-no “numa fase pós tratamentos”. “Os próprios médicos encaminham os doentes para este serviço”, diz.
Segundo Catarina Gaspar, a maioria dos doentes oncológicos acompanhados pela unidade de Psico-oncologia do Grupo de Apoio de Beja tem conhecimento das consultas no Hospital de Dia de Beja e através dos voluntários do “Café com leite”, um serviço gratuito de apoio ao doente oncológico, que funciona de segunda a sexta-feira, das 9:30 às 11:30 horas. “Oferecemos chá, café e bolachas e muitas vezes uma palavra de conforto. É neste contexto de humanização que muitas vezes divulgamos os serviços prestados”, esclarece, concluindo que o trabalho desenvolvido pela unidade de Beja “tem sido positivo”. A consulta é assegurada atualmente pela psicóloga Elisabete Silva.
A importância da Psicologia no tratamento da doença oncológicaSegundo a LPCC, “para além dos fundamentais tratamentos médicos, é essencial que os doentes oncológicos tenham acesso a um minucioso acompanhamento psicológico ao longo de todas as fases da doença, que permita minorar as elevadas taxas de perturbações psicopatológicas que dificultam bastante o processo de recuperação integral destes pacientes”.
De acordo com os mais recentes estudos científicos realizados com doentes oncológicos, adianta a liga, verifica-se que a existência de um apoio psicológico especializado, para além de contribuir para uma melhoria significativa da qualidade dos doentes e dos seus familiares, potencializa uma diminuição do tempo de recuperação clínica, melhor perceção do controlo sobre a doença, diminuição das somatizações, redução de polimedicação, maiores índices de combatividade, adesão terapêutica mais adequada e diminuição dos índices de perturbações depressivas e ansiosas, “podendo, inclusive, conduzir a um aumento significativo do tempo de sobrevida do doente oncológico por estimular um melhor funcionamento do seu sistema imunitário”.
“O diagnóstico de uma doença oncológica é uma situação de crise para a pessoa diagnosticada e para toda a sua família. Após o choque inicial associado à transmissão do diagnóstico é necessária a readaptação do doente e da sua família a uma nova realidade. Nesta, constam as idas a consultas médicas, realização de análises clínicas, as horas de tratamento e os efeitos secundários dos mesmos, nomeadamente, a alopecia, que tem um impacto na aparência física dos doentes. Ao longo deste caminho vai ser necessário fazer várias adaptações. É aqui que surge a consulta de Psico-oncologia. É necessário haver um profissional que acompanhe e esteja disponível para ouvir o doente e os seus familiares, de modo a ajudá-los a gerir adequadamente as emoções despoletadas pelo diagnóstico e prognóstico da doença, pelos tratamentos e as limitações provocadas pelos mesmos. Assim, a consulta de Psico-oncologia pode ser um fator importante na adesão terapêutica”, conclui Catarina Gaspar.