Diário do Alentejo

Zonas rurais perderam 40 por cento da população

03 de janeiro 2020 - 00:20

Algumas zonas rurais do Alentejo, Centro e Norte do País “perderam 40 por cento ou mais” de população nos últimos 30 anos, caracterizando-se atualmente por uma elevada proporção de idosos sobre os jovens, indicou a especialista em Geografia Paula Santana, coordenadora do Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território, adiantando que a variação da população foi negativa em 68 por cento dos municípios.

 

“O território é muito desigual na distribuição da densidade populacional e, falando apenas do continente, há 20 municípios com densidade inferior a 10 habitantes por quilómetro quadrado”, sublinhou. Só entre 2001 e 2017, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), o Alentejo perdeu 62 500 residentes, cerca de 12 por cento da população, sendo que no Baixo Alentejo essa perda foi ligeiramente maior: 13 por cento, correspondente a cerca de 17 mil pessoas. As maiores perdas populacionais verificaram-se, em todas as NUTS III, no período compreendido entre 2011 e 2017, o que indicia um agravar do problema.

 

Segundo Paula Santana, está a criar-se nestes territórios uma situação de “risco demográfico”, causada pela perda de residentes, que se acentuou com a emigração da população ativa nos últimos 10 anos, com a baixa taxa de natalidade e fecundidade e com o aumento da esperança média de vida, que ultrapassa os 80 anos. “Em algumas áreas rurais existem quase três idosos para um jovem, o que é mais do dobro do que existe nas áreas urbanas. Não estou a dizer que existem pessoas com mais de 65 anos em número absoluto nas áreas rurais, mas que a proporção de idosos sobre jovens é muito agravada nestas zonas”.

 

A especialista refere que “Portugal é um dos países mais envelhecidos da Europa e do mundo”, tendo em 2018 mais de dois milhões de habitantes com mais de 65 anos. “Este número vai aumentar muito, estima-se que em 2040 seja quase 40 por cento neste grupo de idade. É de facto um alerta que todos devemos ter. É um resultado da melhoria das condições de vida e uma conquista do século XXI, mas temos de ter presente que as pessoas não querem só viver mais anos. Querem viver mais anos com felicidade, serem criativos e úteis, mas é isso que às vezes falha”.

 

Para a responsável, esta situação de “risco demográfico” levanta “múltiplos desafios ao país”, havendo a necessidade de serem criadas “políticas de promoção do bem-estar ao longo dos ciclos de vida”, não só para quem ainda vive nas zonas rurais, mas também para atrair novos residentes. A implementação destas medidas, acrescentou, “é o papel dos governos locais, em articulação com os governos regionais e centrais”.

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