O anúncio da antecipação do encerramento da central a carvão da EDP, em Sines, para 2023, chegou pela boca do primeiro-ministro, António Costa. Foi no seu discurso de tomada de posse que revelou a pretensão do Governo relativamente ao capítulo da transição energética. Decisão, esta, que já levou o sindicato do setor e o presidente da Câmara de Sines a solicitar reuniões de urgência com o Governo.
Texto Bruna Soares
No mesmo dia o primeiro-ministro antecipou ainda, para 2021, também o encerramento da central do Pego (da Tejo Energia). Para o abandono da eletricidade produzida a partir do carvão terá contribuído a verificação, recente, em agosto, de que o sistema elétrico nacional consegue sobreviver durante períodos prolongados sem qualquer produção termoelétrica a carvão.
“Estou em condições de anunciar que iremos mesmo antecipar o encerramento da central termoelétrica do Pego para o final de 2021, e que a produção da central de Sines cessará totalmente em setembro de 2023, garantidas condições de perfeita segurança de abastecimento, após a conclusão das barragens do Alto Tâmega e de uma nova linha de alta tensão que abasteça o Algarve, já planeada e prevista para meados de 2022, e que permitirá iniciar o encerramento faseado de Sines”, justificou o primeiro-ministro.
Após este anúncio, o presidente da Câmara Municipal de Sines, Nuno Mascarenhas, porém, solicitou com caráter de urgência uma reunião ao secretário de Estado da Energia. O autarca, que é favorável “à descarbonização da economia”, diz que “os impactos sociais devem ser tidos em consideração”. Pois, “é uma medida que tem impactos em trabalhadores, famílias e empresas que estão na região”. Assim, depois de acontecer esta reunião, o presidente da Câmara de Sines anunciou que vai tomar uma posição pública sobre o assunto.
Também o Sindicato das Indústrias, Energias e Águas de Portugal (Sieap), em comunicado, manifestou a sua preocupação com esta antecipação de encerramento e pediu esclarecimentos ao Governo. “O Sieap concorda com a descarbonização da economia, mas opõe-se a que sejam criados outros problemas sociais graves sobre os trabalhadores e as suas famílias. A melhoria do ambiente é compatível com a melhoria da vida de todas as pessoas”, pode ler-se no referido comunicado.
“Os direitos dos trabalhadores da EDP e das empresas subcontratadas, sendo os trabalhadores destas em maior número, não podem ser postos em causa e terão a firme defesa dos mesmos por parte deste sindicato”, adiantou ainda o Sieap. Que considera também: “O anúncio desta decisão sem ouvir todas as partes envolvidas poderá não ser um bom indicador. Contudo ainda estamos a tempo de inverter a situação e a todos envolver”.
Recorde-se que o Sieap é o sindicato mais representativo dos trabalhadores deste local de trabalho e anunciou, ainda no mesmo comunicado, que iria solicitar reuniões com o ministro do Ambiente, com a ministra do Trabalho, com a Comissão de Economia do Parlamento e com a EDP.
Recentemente, na Web Summit, que se realizou em Lisboa, António Mexia, presidente executivo da EDP, comentou: “Estamos absolutamente tranquilos com a transição energética. Há um phase-in das renováveis mais acelerado do que era esperado e um phase-out do carvão também mais acelerado. A central de Sines terá a vida que terá. Estamos preocupados com essas pessoas, mas também com todas as outras [do grupo EDP]”.