Diário do Alentejo

Eleições e clima atrasaram abertura da época geral de caça

16 de outubro 2019 - 10:35

A abertura da caça coincidiu, neste ano, com o fim de semana das eleições legislativas. E os resultados que daí resultaram não são de molde a tranquilizar os caçadores: para além de serem cada vez menos, estarem confrontados com as mudanças climáticas que afetam a atividade venatória e verem agora o vírus da mixomatose atingir as lebres, receiam que o reforço eleitoral do PAN possa resultar em mais iniciativas legislativas em seu desfavor. Há até já quem fale em fundar um partido para defender “o estilo de vida do mundo rural”.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

Devido ao facto de as eleições se terem realizado no último domingo, a abertura da caça começou a meio gás, uma vez que a lei proíbe a atividade em dias de ida às urnas.No entanto, as condições no terreno também não são as melhores para a prática da caça. “As pessoas estão à espera da chuva”, disse ao “Diário do Alentejo” Paula Inácio, da Sulbeja, empresa de enchimento de cartuchos a operar no Alentejo há mais de 40 anos. Na última década o número de caçadores desceu quase para metade. Neste momento estão recenseados 247 589, mas apenas 120 mil estão em condições de caçar e munidos da respetiva licença.

O distrito de Beja é o destino preferido de muitos aficionados da caça, mas apenas tem 12 171 caçadores registados (Évora tem 11 634 e Portalegre 7 319). António Paula Soares, presidente da Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade, e um dos promotores da plataforma Animais e Sociedade, diz que depois da “queda abrupta” provocada pela crise económica de 2008, já se consegue perceber um “ténue aumento” no número de caçadores.

José Lopes Bernardino, presidente da Federação Alentejana de Caçadores, explica que “o abandono das zonas rurais levou ao afastamento das pessoas da caça, atividade ligada à ruralidade”, e os que saíram destes territórios foram assimilando “conceitos de vida diferentes, sempre mais distantes da sua origem”.

 

Jacinto Amaro, presidente da Federação Nacional de Caçadores (Fencaça), encontra outros motivos para a diminuição de caçadores, a começar “pela diminuição das populações cinegéticas”. Que é o que, neste ano, está a acontecer com as lebres. Depois de a população de coelhos quase ter sido dizimada – primeiro com a hemorrágica e depois com a mixomatose –, uma mutação do vírus parece ter atingido esta espécie cinegética que, até agora, se mostrara imune ao “mal”. Mas a maior preocupação dos caçadores prende-se com “os ataques políticos da sociedade urbana contra o mundo rural”, diz António Paula Soares, no que é secundado por Jacinto Amaro: “O PAN e o BE fazem um ataque permanente ao mundo rural”.

 

O presidente da Fencaça diz mesmo que se se sentirem “ameaçados” terão de se “juntar” e, “quem sabe, fazer um partido para defender o interior do País”. Já António Paula Soares defende “uma atuação junto dos deputados eleitos” pelos distritos onde a caça é uma importante atividade económica, e “apelar a seu bom senso”, para que as iniciativas legislativas do Parlamento – “constituído na maioria por deputados eleitos por Lisboa e Porto” –, contra esta atividade, sejam travadas. Jacinto Amaro acrescenta que é necessário que a caça seja reconhecida “como um importante setor para a economia nacional e local e fundamental para combater o despovoamento e o desemprego no interior 

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