Um desrespeito que, diz, “se verifica a vários níveis, nomeadamente, nos cuidados de saúde ou nas acessibilidades ferroviárias e rodoviárias, de que esta estrutura, pronta há muito tempo mas inacessível às populações, é um exemplo”. A argumentação recorrentemente apresentada pelo Governo, que responsabiliza a concessionária da autoestrada pelo atraso na construção da praça de portagens, justificando assim a não abertura do troço, não convence Carlos Azedo: “Quando numa aula minha há um conflito entre dois alunos eu não me venho embora, não abandono o meu trabalho. Intervenho e tento resolver a discórdia. Sendo aquela estrada propriedade do Estado português, o Governo terá de resolver o conflito que diz estar instaurado, é essa a sua obrigação”.
Mas o professor, nascido há 58 anos, em Serpa, não atribui as responsabilidades deste imbróglio exclusivamente ao governo central, sendo crítico também para com os governantes locais: “Os autarcas da região também têm a sua quota de responsabilidade neste caso, ao não fazerem pressão para que a autoestrada seja efetivamente aberta o mais rapidamente possível. Todos eles deveriam pressionar de forma visível e intensa para que, pelo menos, possamos de uma vez por todas saber quais são as intenções do Governo relativamente à abertura deste troço, mas não o fazem. O que me parece é que está tudo refém da partidocracia”.
Contrariamente, refere Carlos Azedo, o seu protesto não está subjacente a qualquer tipo de lógica ou reverência política mas, sim, “à vontade de mobilizar pessoas e opiniões, à vontade de querer ver esta região, onde estamos a criar os nossos filhos, a funcionar condignamente”. Assim, e até que o troço abra finalmente ao público, Carlos Azedo assegura que tentará todos os meses, à semelhança do que irá acontecer amanhã, realizar um “pacífico passeio” de bicicleta numa “estrada em que todos nós, contribuintes não devedores ao Estado, temos um bocadinho de alcatrão que é nosso”.
Apelando à participação de todos os cidadãos nesta iniciativa, independentemente “da simpatia partidária de cada um”, Carlos Azedo manifesta o seu desejo de este protesto poder vir a constituir-se como uma ideia de mobilização pública: “Temos andado muito desmobilizados enquanto cidadãos, não temos a cultura do ‘refilanço’ que às vezes é necessária. Nós somos consumidores das decisões dos governos, portanto há que exigir que essas decisões não se nos apresentem ‘estragadas’ ou ‘fora de prazo’”.
E conclui: “Amanhã não sei se estarei lá sozinho ou se terei a companhia de milhares de pessoas. Quem lá estiver, porque acredita que vale a pena participar neste protesto cívico, irá simplesmente reclamar por melhores condições de vida para as pessoas que aqui vivem, nomeadamente em relação à questão da segurança rodoviária, que é importantíssima. Estou farto de perder amigos na estrada”.
Horários do itenerário ciclísticoSaída de Serpa, dia 24, sábado, às 07:30 horas. Concentração na rotunda norte de Beja (monumento à Força Aérea) às 08:30 horas. Chegada prevista ao troço do IP8/A26, em Santa Margarida do Sado, às 11:00 horas, altura em que terá início o passeio, de 12 quilómetros, pela autoestrada encerrada. Após o passeio haverá, em Canal Caveira, um almoço convívio.
Beja Merece+ apoia iniciativa O Beja Merece+ apoia este passeio ciclístico pela “autoestrada do esquecimento”, como diz Florival Baiôa, membro deste movimento de cidadãos: “Todas as iniciativas que contemplem os objetivos do movimento visando promover o Baixo Alentejo são para nós sempre bem-vindas. Este ‘passeio’ de bicicleta – ou a pé para quem o queira fazer – organizado pelo Carlos Azedo será, sem dúvida, muito útil como forma de elucidar todo o País sobre o que se está aqui a passar, relativamente a uma obra, fundamental para esta região, que após dois anos da sua conclusão permanece inexplicavelmente encerrada”.