Diário do Alentejo

Monges da Ordem da Cartuxa fecham mosteiro em Évora

31 de julho 2019 - 13:40

Os quatro monges da Ordem da Cartuxa que vivem em clausura num mosteiro na periferia de Évora vão mudar-se para outro, em Espanha, até ao final deste ano. "O Capítulo Geral da Ordem da Cartuxa decidiu que nós, que somos dois octogenários e dois nonagenários e que já somos poucos para manter isto de pé, iremos para uma Cartuxa espanhola, perto de Barcelona", indicou o padre Antão Lopez, contactado pela Lusa através de telefone.

 

O monge e prior da Cartuxa de Évora disse que não sabe ainda mais pormenores sobre a mudança, nem uma data concreta para a sua concretização, remetendo para "meados de agosto" mais esclarecimentos sobre a decisão. "Como vamos fazer não sei ainda. O que fazemos aos livros e às coisas e outros pormenores ainda não sabemos ainda", notou o padre Antão Lopez, assinalando que "o tempo é longo" e que "ainda são meses" até à mudança.

 

O Mosteiro de Santa Maria Scala Coeli, conhecido localmente como Convento da Cartuxa, "lugar icónico" da cidade de Évora, é o único mosteiro contemplativo masculino de Portugal. A Fundação Eugénio de Almeida (FEA) é responsável pela Cartuxa de Évora, não apenas enquanto "património histórico, artístico e arquitetónico de grande valor", mas, sobretudo, enquanto "centro de vida espiritual único em Portugal".

 

São Bruno fundou a Ordem dos Cartuxos, que deve o seu nome à aldeia francesa de Saint Pierre de Chartreuse, perto de Grenoble, para onde o Santo se retirou com seis companheiros para se dedicarem à oração e à vida contemplativa. A instauração desta ordem em Portugal deveu-se a D. Teotónio de Bragança (1530-1602), sendo o Convento da Cartuxa de Évora dedicado à Virgem Maria, sob a denominação "Scala Coeli", a Escada do Céu.

O arcebispo de Évora, Francisco Senra Coelho, lamentou o encerramento do mosteiro na cidade onde monges cartuxos vivem em clausura, revelando a intenção de encontrar "uma outra comunidade monástica contemplativa" para ocupar o lugar. O prelado afirmou que "a Arquidiocese de Évora comunga com os cartuxos a dor da sua partida", considerando que os monges marcaram a cidade "espiritualmente e culturalmente".

 

Francisco Senra Coelho revelou que chegou à Arquidiocese de Évora "a comunicação do Capítulo Geral da Ordem Cartusiana de que não é possível continuar a manter" na cidade alentejana a presença dos monges cartuxos. "Recebemos a mensagem com um sentido de comunhão profunda com a Ordem Cartusiana, agradecendo a Deus o dom das cerca de seis décadas que os monges permaneceram em Évora, na sua segunda fase após a expulsão de 1834", realçou.

 

"A Arquidiocese de Évora comunga com os cartuxos a dor da sua partida. Sabemos que eles amam a sua cidade de Évora e sabemos que a sua partida envolve sofrimento", acrescentou o arcebispo de Évora, sublinhando que "a vida contemplativa masculina fica muito reduzida em Portugal", mas revelou que está "a enveredar todos os esforços para encontrar", com a "brevidade possível", uma outra "comunidade monástica, contemplativa, masculina ou feminina, para que a Cartuxa, aquele lugar santo, tenha vida".

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