Margarida de Araújo, 57 anos, natural de Moçambique
Artista plástica com percurso de exposições em cidades como Veneza, Sevilha Lisboa e Porto, Margarida de Araújo tem em Serpa o seu ateliê, onde desenvolve o seu trabalho de escultura, cerâmica, pintura e ilustração digital. Esteve recentemente em Nova Iorque e Berlim, onde apresentou projetos de internacionalização artística.
Texto | José Serrano
Galeria Municipal de Arte Contemporânea de Serpa inaugurou no passado dia 5 a nova exposição de pintura de Margarida de Araújo, intitulada “À Sombra de Estrelas Cintilantes”, que conta com curadoria de Helena Inverno, cineasta e curadora com uma ligação profunda ao Alentejo. É possível visitá-la até ao dia 18 de janeiro.
Como nos apresenta esta sua mais recente mostra?
Esta exposição resulta da observação de imigrantes nas nossas ruas e a sua aparente conectividade com as terras de origem, convidando os visitantes a refletir sobre os indivíduos que, atualmente, fazem parte da nossa comunidade e com quem tantas vezes nos cruzamos. A exposição tem o apoio da DGArtes e do município de Serpa e será apresentada, também, no Museu Municipal da Vidigueira.
Conjugam estes seus trabalhos pormenores de culturas “longínquas” em comunhão com aspetos culturais da região?
Sim, alguns pormenores de culturas “longínquas” aparecem nesta série de pinturas em conjugação com aspetos regionais, a exemplo do tipo de vestuário usado por algumas mulheres, criando um cenário que contrasta com o que era habitual nas nossas ruas brancas de barras pintadas, do tipo de calçado ou do modo de sentar nos bancos dos jardins, dos adereços de roupas – turbantes, lenços, véus, e saias compridas –, que nos eram tão estranhos e que agora começam a ser comuns, enriquecendo a nossa comunidade.
Como classifica a capacidade de a arte ser ponte de entendimento entre culturas, de aceitação do “outro” que desconhecemos?
A arte tem uma linguagem que pode ser entendida sem palavras, sem que seja necessária uma tradução. Mais do que estética, a arte tem uma intenção ética – serve para nos fazer refletir. A arte pode e deve ser uma ponte entre culturas, exatamente por ter uma linguagem universal que pode estabelecer laços entre diferentes identidades culturais que originam a aceitação do “outro”.
Pretende esta exposição, de alguma forma, ser um exercício contra a invisibilidade muitas vezes adotada pelo receio do desconhecido?
Sim. A ideia da exposição é fazer uma aproximação aos imigrantes, olhar para as pinturas que os retratam e identificar o que nos é familiar quando vemos alguns imigrantes no nosso dia a dia em situações que nos são familiares – a trabalhar nos cafés ou restaurantes, a irem e a voltarem do trabalho, a levarem as crianças às escolas, a voltarem das compras do supermercado.
O que gostaria que sentisse o espetador ao ver esta sua exposição?
Uma maior empatia pelos imigrantes que agora fazem parte da nossa comunidade.