Diário do Alentejo

“Beja é um modelo inspirador para qualquer domínio artístico”

14 de dezembro 2025 - 08:00
Aguarelas de Manuel Maria Barroso desvendam recantos da cidade

Manuel Maria Barroso 68 anos, natural de Alvito

 

Aposentado da administração pública central, ocupou diversas funções, quer como técnico superior, quer como dirigente. Esteve acreditado como vice-cônsul para os Assuntos Culturais em Vigo (Espanha) e foi leitor de Língua e Cultura Portuguesas na universidade da mesma cidade. Frequentou a Sociedade Nacional de Belas Artes na área da pintura. Tem obras em coleções privadas em Portugal e no estrangeiro. Recebeu prémios e notas laudatórias, em Portugal e em Espanha, pela sua participação em diversas ações de natureza sociocultural e cívica.

 

O Clube Unesco, em Beja, tem patente ao público, até ao dia 3 de janeiro, a exposição de pintura intitulada “Beja: Policromias da memória e do sonho”, da autoria de Manuel Maria Barroso.

 

Como nos apresenta esta sua exposição?

Esta exposição é composta por 25 aguarelas, as quais têm por base temática ruas e praças da cidade de Beja, com especial relevância para o seu castelo. A mostra conta, também, com algumas interpretações relacionadas com a paixão de soror Mariana Alcoforado.

 

Podemos dizer que esta mostra nos “convida” a olhar para a cidade de Beja de um outro ângulo que não o do quotidiano apressado?

Trata-se de uma das muitas possíveis interpretações gráficas, neste caso através da aguarela, sobre alguns dos muitos e magníficos recantos da cidade, que nos devem orgulhar. Muitas vezes não nos damos conta das coisas interessantes que nos são imediatas no tempo e no espaço. Porém, contêm dimensões de enorme valor emocional e afetivo, nas nossas vivências e histórias de vida e no seu valor intrínseco, enquanto lugar concreto. São essas dimensões que preenchem as nossas memórias e, igualmente, são a razão de tantos dos nossos sonhos. A “face oculta” de Beja merece ser observada e divulgada, pela sua dimensão e sensibilidade.

 

Considera que a contemplação dos pormenores que nos estão próximos é, assiduamente, por nós desvenerado?

Contemplar a beleza dos pormenores não só poderá permitir recolher a imagem e os detalhes, como possibilita, posteriormente, uma maior e melhor “interpretação” da globalidade. Este será, seguramente, o cenário ótimo. Porém, sabemos que nem sempre acontece. Em todo o caso, tal como argumenta um aguarelista que conheço, a “aguarela apenas fundamenta a sugestão para a interpretação da matéria tratada na obra”. Não se pretende, portanto, que a aguarela seja o “retrato” ou a “imagem fidedigna” do que se regista.

O que diria acerca do potencial de Beja enquanto “modelo” inspirador de criação?

Beja é inspiradora para qualquer domínio artístico, digna de registo por quem o quiser tomar. Cumpre-me evocar aqui o nosso saudoso Leonel Borrela e a sua ímpar qualidade interpretativa através da aguarela. A forma como soube captar a luz, em especial as sombras e as nuvens, do Alentejo e de Beja é, por si só, uma forma de reconhecer esse potencial artístico, inspirador da cidade e da nossa região.

 

É esta Beja, retratada nas suas telas, a cidade que se pode hoje visitar ou esta urbe apenas habita na memória e no sonho do artista?

Beja é a minha cidade, a par da minha vila natal, Alvito, e da minha cidade de residência durante muitos anos, Lisboa. Foi em Beja que fiz parte dos meus estudos não universitários e onde construí muitas amizades. Foi em Beja que vivi o Dia da Liberdade. Beja é, intrinsecamente, uma cidade bonita e merecedora de mais… de muito mais.

 

José Serrano

Comentários