A propósito da recente tomada te posse enquanto presidente da Direção da Sub-Região de Beja da Ordem dos Médicos o “Diário do Alentejo” conversou com Ricardo Martins Albuquerque sobre os principais objetivos a que se propõe neste quadriénio 2025/2029, a situação do número de utentes sem médico de família na região e a importância da requalificação do hospital de Beja para atrair novos médicos.
Quais os principais objetivos a que se propõe neste quadriénio 2025/2029?
Estabelecemos seis pilares fundamentais para este mandato. Pretendemos defender a essência e as virtudes do Serviço Nacional de Saúde e do ato médico, preservando os valores fundamentais da medicina. Comprometemo-nos a promover eventos científicos e de interesse social, fomentando o diálogo de qualidade entre profissionais e comunidade e a estabelecer um fórum de diálogo institucional para a solução de problemas e intermediação de conflitos. Outro objetivo é voltar a atribuir o prémio anual aos internos, reconhecendo o mérito e incentivando a formação de excelência na região. Paralelamente, assumimos o compromisso de ser uma voz ativa de todos os médicos da região contra o assédio moral nas instituições de saúde, defendendo a dignidade profissional. Por fim, pretendemos contribuir para a defesa da região de Beja, promovendo parcerias estratégicas com entidades locais.
O número de utentes sem médico de família na região, cerca de 19 mil, “piorou significativamente”, segundo a Ulsba. Que elações tira desta situação?
Tendo em conta os dados disponíveis na plataforma Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários, estes 19 mil utentes representam 16 por cento da população inscrita (121 000). Quando comparamos com o distrito de Évora, que tem apenas sete por cento da população inscrita sem médico de família (12 000), mas está coberta na sua maioria com Unidades de Saúde Familiar (USF), é legítimo afirmar que o modelo dos Cuidados de Saúde Primários em Beja precisa de uma reestruturação. Não conseguimos captar profissionais ativos porque os modelos existentes não são atrativos para os jovens médicos, quer em termos de equipas de saúde, quer em termos remuneratórios. O conselho de administração da Ulsba está ciente desta situação e tudo tem feito para que Beja se aproxime dos modelos dos distritos vizinhos, quer com vagas carenciadas, quer na abertura para constituição de novas USF. No último concurso para Medicina Geral e Familiar as vagas existentes para Beja não foram totalmente preenchidas, ainda assim, as duas únicas unidades que conseguiram atrair novos médicos foram as duas USF do distrito.
Considera que a requalificação do hospital de Beja pode incrementar a atratividade de novos médicos pela região?
Um hospital novo pode, sim, ser capaz de incrementar a atratividade para novos médicos. Contudo, pensar que atraímos profissionais apenas com estrutura física, enquanto a estrutura humana existente não se adapta à nova geração de profissionais, é construir sem planeamento a longo prazo. O design e as infraestruturas têm um papel reconhecido na melhoria dos cuidados de saúde. Porém, deve ser integrado não apenas no desenvolvimento de estruturas físicas, mas também na melhoria da qualidade, performance e confiabilidade de todo o sistema. A verdadeira transformação dos nossos sistemas de saúde exige uma abordagem centrada no utilizador – tanto profissionais como utentes – que vá além da infraestrutura física e abranja a renovação dos modelos organizacionais e das práticas profissionais.
José Serrano