Diário do Alentejo

“O esforço é contínuo e muito há, ainda, a fazer, neste caminho de unir a agricultura e o ambiente numa simbiose plena”

14 de julho 2025 - 08:00
Três Perguntas a Henrique Silvestre Ferreira, presidente da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal

A cidade de Beja viu ser inaugurada, recentemente, uma delegação da Associação dos Jovens Agricultores de Portugal. O “Diário do Alentejo” falou com o presidente da instituição a propósito da importância desta presença na região e dos desafios que de colocam aos jovens agricultores e ao setor.

 

Texto José Serrano

 

A Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP) inaugurou, recentemente, uma delegação na cidade de Beja. Qual a importância, para a região, desta presença institucional?

O distrito de Beja é um excelente exemplo de resiliência e inovação que a produção primária gerou à sua volta, desde indústria, fornecedores de equipamentos e matérias-primas e uma multiplicidade de serviços. Sabemos bem do despovoamento, do envelhecimento e do abandono das atividades económicas a que a grande maioria dos territórios rurais são expostos. Mas esta evidência não pode ser uma fatalidade e o distrito prova o contrário. Para a AJAP, é, pois, um orgulho a abertura desta delegação em Beja. Hoje, esta região, diretamente associada às novas tecnologias, à inovação, à digitalização e à dimensão das suas explorações, representa uma das bandeiras do nosso setor ao contribuir de forma assinalável para o aumento da nossa balança comercial, através de muitos produtos, como é o caso da azeitona, dos frutos secos, da uva, dos cereais e das carnes, nomeadamente, de ovino e bovino.

 

Quais as decisões políticas que considera indispensáveis para a instalação de mais jovens agricultores?

É necessário reforçar a capacidade dos programas financeiros de apoio ao setor. De igual forma, o fator terra é determinante para que possamos instalar mais jovens agricultores – somos de opinião que a Bolsa de Terras e o Banco de Terras podiam dar um contributo, pena estes instrumentos não se encontrarem em vigor. Consideramos urgente a criação partilhada entre vários ministérios de um modelo de apoio e incentivo à instalação em territórios rurais. Apelamos, pois, ao Governo, através das tutelas da Economia e Coesão Territorial, Juventude e Modernização, Agricultura e Ambiente, que olhem para esta proposta com os olhos postos no rejuvenescimento destes territórios e na revitalização económica, essencial no combate ao abandono e despovoamento.

 

Considera que o atual paradigma agrícola do território – a intensificação da agricultura – tem sabido coadunar-se com a preservação dos valores biofísicos, e assim se deverá manter, ou avalia como essencial uma reflexão, por parte dos jovens agricultores, acerca da sua sustentabilidade?

Os jovens agricultores e os agricultores portugueses, em geral, têm consciência, há muito, da importância da preservação dos valores naturais, da biodiversidade e dos ecossistemas. E cada vez mais implementam, nas suas explorações agrícolas, práticas regenerativas e sustentáveis, que preservam os recursos, como o solo e a água. Além disso, têm sabido adaptar-se aos fenómenos cada vez mais extremos das alterações climáticas, que já afetam, de forma severa, algumas regiões do território nacional. O esforço é contínuo e muito há, ainda, a fazer, neste caminho de unir a agricultura e o ambiente numa simbiose plena, em que as produções agrícolas jamais possam ser postas em causa, bem como os elementos naturais da paisagem e do território.

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