A propósito do recente colóquio “O futuro do olival tradicional”, decorrido na XV Feira do Azeite de Vale de Vargo (Serpa), o “Diário do Alentejo” conversou com o presidente do Centro de Estudos e Promoção do Azeite do Alentejo (Cepaal), Gonçalo Morais Tristão, sobre a sobrevivência do olival tradicional face à diferença de proveitos económicos que os olivais intensivos apresentam, a qualidade dos azeites provenientes de um olival tradicional, assim como o que pode ser feito para que este património, em muitos casos secular, que caracteriza a nossa região, possa ser preservado em convivência com o “olival moderno”.
Texto José Serrano
O colóquio “O futuro do olival tradicional” decorreu, recentemente, na XV Feira do Azeite de Vale de Vargo. Considera plausível a sobrevivência do olival tradicional face à diferença de proveitos económicos que os olivais intensivos apresentam?
Nos olivais tradicionais passou a ser muito difícil conseguir resultados económicos da sua exploração, tendo em conta a alta de preços dos fatores de produção e a fraca produtividade deste tipo de olivais. Acresce a isto a cada vez maior dificuldade em conseguir mão de obra, especialmente, no período da colheita da azeitona. A sobrevivência do olival tradicional só pode ser conseguida se o detentor/proprietário tiver outro tipo de oportunidades – ajudas financeiras pelos serviços que são prestados à comunidade (ambientais, paisagísticos, etc.) ou proveitos económicos provindos da produção de um azeite de qualidade ou de outra atividade, como o olivoturismo.
Se se comparar azeites provenientes de um olival tradicional, com ausência de tratamentos fitossanitários químicos, e de um olival intensivo, as diferenças de qualidade são notórias?
As diferenças de qualidade dos azeites não dependem do seu sistema de plantação, nem dos seus tratamentos fitossanitários, químicos ou biológicos. As qualidades dos azeites estão ligadas à forma como se gere a produção da azeitona no campo, o momento da colheita e do transporte para o lagar e o processamento da azeitona até se transformar em azeite. Mas, repita-se, a qualidade de um azeite não se afere se provem de um olival tradicional ou de um olival em sebe. E, já agora, também não se diga que um azeite proveniente de um olival de sequeiro é melhor do que um azeite oriundo de um olival de regadio.
O que pode ser feito para que este património, em muitos casos secular, que caracteriza a nossa região, possa ser preservado em convivência com o “olival moderno”?
Os olivais mais produtivos têm trazido, nos últimos anos, enormes ganhos económicos para o Portugal agrícola, sobretudo, ao nível das exportações. Mas os olivais tradicionais desempenham um papel inestimável, em termos sociais, culturais e ambientais. A solução para preservar este tipo de olivais passa por encontrar o modo de valorizar os azeites ali produzidos, para que o produtor consiga cobrir os custos de produção e ter o seu lucro económico. A aposta na qualidade é essencial e isso tem ocorrido em muitos casos. As indicações geográficas são também um meio importante na valorização deste tipo de azeites e olivais, na medida em que contam uma história ligada à origem, e o consumidor tem apetência por este tipo de produtos. Por outro lado, o olivoturismo é outro instrumento que pode trazer novas dinâmicas aos produtores de azeite, aos seus olivais, mostrando o saber-fazer, a cultura e o património das regiões e, com isso, conquistar os novos clientes, ávidos de sensações e experiências.