Diário do Alentejo

Vai ser criada plataforma laboral para agilizar contratação legal de migrantes

31 de janeiro 2025 - 12:00
Projeto-piloto terá a duração de três anosFoto José Serrano/Arquivo

A Incubadora de Inovação Social do Baixo Alentejo (Iisba), o laboratório Data Colab, a ACOS – Associação de Agricultores do Sul e o município de Beja estão a colaborar na construção da “Plataforma de integração e inclusão social e laboral”, uma ferramenta que visa agilizar os processos de contratação legal dos trabalhadores migrantes por parte das empresas locais. Minimizar a sazonalidade e aumentar a formação específica em determinadas áreas são, para já, os principais objetivos apontados ao projeto.

 

Texto | Ana Filipa Sousa de Sousa

 

Cerca de 30 responsáveis de empresas locais relacionadas com os setores da agricultura e hotelaria e de associações e instituições de solidariedade social reuniram-se, no final da semana passada, nas instalações da ACOS – Associação de Agricultores do Sul, para, em conjunto com a Incubadora de Inovação Social do Baixo Alentejo (Iisba) e o laboratório Data Colab, elaborarem o plano de construção da nova “Plataforma de integração e inclusão social e laboral” de imigrantes.

Em causa está o contínuo crescimento da população imigrante no Baixo Alentejo que, face à sazonalidade das campanhas agrícolas, fica vulnerável e, em muitos casos, em situação de sem-abrigo.

“O nosso intuito é fazer alguma coisa e não ter a postura de que ‘depois logo se vê’ ou que isto é um problema do Governo. A nossa intenção é que este seja um projeto-piloto com boa intenção [e que] através de uma plataforma, que seria uma forma de organizar a informação [e] os dados, possamos contribuir para [reduzir] uma problemática que existe”, começa por explicar a gerente da Data Colab, Cláudia Trindade.

Desta forma, o projeto, que se encontra numa fase preliminar, prevê que seja criada uma “bolsa de empregabilidade”, com possibilidade de formação especializada em determinadas áreas, que permita que as empresas contratem trabalhadores imigrantes de forma “transparente” e “legal”.

Durante o “momento de auscultação”, alguns empresários do setor agrícola propuseram ainda que a aplicação possibilitasse que “nas épocas altas”, nomeadamente, da vindima e da apanha do medronho, as empresas empregassem os mesmos trabalhadores de anos anteriores, uma vez que existiria uma diminuição de horas de formação e um aumento da produtividade.

“Nós não estamos numa fase final da apresentação deste projeto, estamos numa fase inicial e isto é importante porque muda a forma como construímos os projetos. Normalmente fazemos o projeto e depois apresentamo-lo, [mas], desta vez, estamos a construir um plano e ao mesmo tempo a ouvir os parceiros para percebermos como é que podemos criar algo que sirva a nossa região”, elucidou o coordenador do Iisba, João Cascalheira.

Durante a sessão de trabalho foi ainda lembrado que a “Plataforma de integração e inclusão social e laboral” deverá também assegurar formações para a aprendizagem da língua e dos costumes do País, assim como a agilização da oferta de habitação digna para os trabalhadores.

“A questão aqui é que nós temos a oportunidade de poder utilizar verbas da inovação social para este tipo de problemas que, neste momento, nem o poder central consegue resolver. Muitas vezes as pessoas perguntam o que é que a Iisba faz e é isto que estamos agora a tratar, [ou seja], alocamos dinheiro e encontramos uma solução razoável para resolver um determinado problema”, realçou.

Ainda assim, Madalena Palma, diretora-geral da associação Estar, relembrou que o problema atual é “muito maior” e que, apesar da grande quantidade de imigrantes desempregados, ilegais e sem habitação digna existente na cidade, continuam a chegar diariamente a Beja migrantes “iludidos” de que a região tem falta de mão de obra.

A representante da associação sediada em Beja garantiu, ainda, que “todas as medidas são bem-vindas”, mas que a complexidade da situação não será resolvida apenas com este tipo de respostas. “Como o que continua a dar dinheiro é mandar vir pessoas não interessa aquelas que ficam cá [sem trabalho], desprotegidas, porque quando há necessidade novamente não são chamadas as anteriores, são chamadas pessoas novas porque se continua a alimentar as redes de tráfico”. Por fim, Cláudia Trindade reconheceu que o projeto “não vai resolver o problema da região”, mas que, “certamente, irá ajudar” a colmatar as dificuldades existentes. “Julgo que será preferível ajudar 50 famílias do que zero”, concluiu.

Atualmente o projeto é liderado pela Câmara Municipal de Beja, prevendo-se, numa fase posterior, o alargamento do mesmo para os municípios de Ferreira do Alentejo e Odemira, concelhos em que a comunidade migrante tem uma forte expressão.

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