Diário do Alentejo

“O setor da caça é uma alavanca de desenvolvimento”

11 de janeiro 2025 - 08:00
Livro sobre atividade cinegética, escrito por pai e filho
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João Fialho de Almeida, 25 anos, natural de Santo Aleixo da Restauração, Moura

 

Cresceu nas cercanias da Herdade da Contenda, em Moura, numa zona de biodiversidade rica e pujante, onde as tradições da faina do campo permanecem vivas. Encontra-se a realizar o último ano do Mestrado Integrado em Medicina, na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.

 

Foi recentemente publicado o livro A Caça – História, Cultura e Recurso Sustentável, da autoria de João Fialho de Almeida e Mário Fialho de Almeida, filho e pai, respetivamente. O “Diário do Alentejo” falou com o descendente.

 

Como nos apresenta este livro?É uma coletânea de reflexões sobre momentos passados no campo e a atividade cinegética. É um livro de caça que pretende ser diferente, num registo marcadamente literário, procurando que o leitor “mergulhe” dentro das experiências e lugares descritos, no presente e no passado histórico.

 

Qual a relevância que a atividade cinegética tem tido na identidade das comunidades rurais do território?É um elemento agregador das comunidades rurais – todos sentem um fascínio enorme por ver um cão a levantar uma perdiz. Faz parte das nossas tradições, une as pessoas com laços de companheirismo, os mais velhos ensinam aos mais novos e vem-se notando, cada vez mais, a presença, fundamental, do sexo feminino, especialmente em batidas.

 

Que peso tem a caça na economia da região?O setor da caça, com o devido ordenamento territorial, é uma alavanca de desenvolvimento na nossa área. Para além do rendimento criado pela gestão ambiental e pela exploração das propriedades, existe um enorme movimento económico gerado com a deslocação dos caçadores, a nível da hotelaria, do comércio, da restauração e do turismo.

 

Há, a seu ver, uma incompreensibilidade, por parte dos cidadãos detratores da caça, acerca do que são as dinâmicas intrínsecas à “vida rural”?A sociedade está cada vez mais polarizada. As redes sociais são câmaras de eco – em vez de haver troca de ideias apenas se reforçam certas crenças que não correspondem à realidade. Paradoxalmente, através das redes sociais, o aspeto lúdico e ecológico da caça está a voltar a ser valorizado. Encontro muitas pessoas da minha idade interessadas em conhecer mais sobre a caça e começar a praticá-la. Penso que, devido ao ambiente assético e alienante da sociedade tecnológica, os jovens anseiam voltar às raízes, contactar com a natureza.

 

O que é necessário implementar/legislar para que a caça seja, de facto, um recurso sustentável, passível de as gerações vindouras virem dele a fruir?A caça tem sido um recurso sustentável ao longo da história. Tem havido períodos mais preocupantes, mas a natureza, até este momento, tem conseguido regenerar-se. Nesse sentido, destaco uma articulação mais próxima e ativa entre o Estado, legislador, e o organismo executivo (ICNF), organizações ambientalistas e a Direção Geral de Veterinária, tendo em conta o papel que a ciência tem no combate a patologias que dificultam a sobrevivência de espécies cinegéticas. É muito importante que o calendário venatório anual seja elaborado tendo em conta o feedback dos vários organismos, associações e federações de caçadores e outras entidades, para que os nossos recursos naturais sejam salvaguardados. José Serrano

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