A propósito da distinção na 1.ª edição dos Prémios Nacionais da Educação do município de Ourique com uma menção honrosa na categoria “Cultura e património” pelo projeto “Educar para a arte – Oficinas de cante alentejano” o “Diário do Alentejo” conversou com o presidente da Câmara Municipal de Ourique, Marcelo Guerreiro, sobre o significado deste reconhecimento, a importância do ensino “formal” do cante para a preservação deste património, bem como a valorização, convenientemente, do cante alentejano como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela Unesco.
Texto | José Serrano
O município de Ourique foi distinguido na 1.ª edição dos Prémios Nacionais da Educação com uma menção honrosa na categoria de “Cultura e património” pelo projeto “Educar para a arte – Oficinas de cante alentejano”. Que significado tem este reconhecimento?
Este reconhecimento demonstra como o envolvimento de crianças, famílias, professores e da comunidade tem sido essencial na preservação e valorização do cante alentejano, património que nos define e nos orgulha. Esta é uma vitória coletiva que celebra a alma do Alentejo e o poder transformador da cultura na educação. O professor José Diogo Bento, peça-chave na implementação deste programa, tem feito um trabalho extraordinário na transmissão desta riqueza cultural às novas gerações. Este reconhecimento reforça a nossa determinação de expandir o projeto, garantindo que mais crianças, mais escolas e mais famílias se juntem a esta missão de preservação.
Que importância atribui ao ensino “formal” do cante para a preservação deste património?
É uma ferramenta essencial para assegurar a sua preservação e continuidade. Integrar o cante no dia a dia das escolas significa dar às crianças as ferramentas para compreenderem e viverem a alma do Alentejo, porque o cante não é apenas cantado, é sentido. A presença do cante no pré-escolar e no 1.º ciclo transformou as crianças nas primeiras guardiãs da nossa cultura, assegurando que o cante será preservado e transmitido às gerações futuras. No entanto, o ensino formal é apenas uma parte da equação. Precisa de ser complementado pelo envolvimento das famílias e da comunidade, para que as crianças levem o cante para a rua, para as festas, para os concertos. Em Ourique temos essa integração, com iniciativas que levam o grupo coral infantil a atuar em eventos populares e de destaque, mostrando que o cante pode ser um motor de transformação cultural e social.
Considera que, 10 anos após o cante ter sido distinguido como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela Unesco, se tem sabido valorizar, convenientemente, esta distinção?
É inegável que o cante ganhou uma visibilidade que nunca teve antes. No entanto, valorizá-lo é uma missão contínua. A distinção internacional foi um marco histórico, mas o verdadeiro desafio é garantir que o cante não se torne apenas uma memória ou um espetáculo para turistas. Precisa de ser vivido. É por isso que, em Ourique, apostamos nas crianças, nas escolas e em projetos como o “Educar para a arte”, que possibilitou levar o cante a centenas de crianças, desde 2009/2010. Ainda há muito a fazer, sobretudo, no sentido de envolver mais comunidades e reforçar a ligação do cante à economia local, à educação e ao turismo sustentável. O cante é um património vivo e a nossa responsabilidade é garantir que continue a ser o reflexo da força e da identidade do Alentejo – não apenas por mais 10 anos, mas por gerações. O cante não é apenas do passado: é o fio condutor entre o que fomos, o que somos e o que seremos.