Texto | Aníbal Fernandes
O ano caminha para o final e, apesar de breves referências, foram quase nulas as crónicas em que o MFA foi protagonista. Mas eis que, na edição 12 925, de segunda-feira, 4 de novembro, com grande destaque, o “Diário do Alentejo” reproduz o artigo “O Movimento das Forças Armadas e a Luta pela Libertação do Povo Português”, originalmente publicado no boletim informativo do MFA, em que “se tecem análises à Revolução de 25 de Abril e às várias manobras reaccionárias que têm visado o aniquilamento daquele movimento e da sua aliança com o povo português”.
Dado o indiscutível interesse histórico do texto (não assinado) reproduzimos alguns excertos:“As razões que originaram o M. F A. de 25 de Abril vêm de longa data, melhor dizendo desde, praticamente, o 28 de Maio de 1926 quando, e ao contrário do que agora se verificou, o Exército derrubou um regime democrático e instaurou uma ditadura militar, (…) apoiada nas mais altas hierarquias militares”.
Durante a ditadura, que durou 48 anos, “assistimos, por um lado, ao desenvolvimento extraordinário de alguns grupos financeiros que manobravam umas tantas empresas; [e] por outro, ao empobrecimento da maioria dos portugueses que, cada vez com maiores dificuldades, mal podiam fazer face ao constante aumento do custo de vida”.
“Para tal, a ditadura fascista impôs a censura; orientou todos os meios de formação; e, embora apoiado nas altas hierarquias militares, como de facto, receasse as Forças Armadas, porque afinal estas são o povo, procurou, por todos os meios e formas, dissociar os militares dos civis, desprestigiando aqueles aos olhos destes e atingindo, muito principalmente, os militares dos quadros permanentes. E, para suprir as Forças Armadas em qualquer perturbação pública que ocorresse, criou e desenvolveu poderosamente várias forças militarizadas, como a Legião Portuguesa, a G.N. R. e a própria P. S. P”.
“Este estado de coisas acentuou-se e agravou-se quando rebentou a guerra em África, guerra esta, aliás, que mais não foi do que uma consequência da política cega, teimosa e injusta do regime ditatorial, que a consentiu apenas para garantir as fontes de rendimento imenso que os referidos grupos financeiros obtinham nos territórios ultramarinos”.
“Ao deflagrar a guerra em Angola, as Forças Armadas, e particularmente o Exército, viam-se numa situação extremamente difícil e ingrata. Por um lado, discordavam da política governamental que tinha permitido essa guerra; por outro lado, não podiam ficar impassíveis perante os morticínios que essa guerra estava a provocar. (…) Um único caminho se lhes deparava: o tentar, por todos os meios, reduzir ou anular essa guerra”.
“O Exército, foi, então, para África, tentando impor a paz, dando tempo a que o governo encontrasse e obtivesse uma solução política para a guerra; porém o governo não quis essa solução; quis, sim, que as Forças Armadas aguentassem o mais possível os territórios ultramarinos, para deles explorar, a toda a pressa, tudo quanto os mesmos pudessem dar, para benefício dos grupos financeiros que continuavam a deter toda a riqueza do País”.
“Passaram-se, assim, treze longos anos, durante os quais o Exército se consumiu, a Nação se esgotou e os mortos, feridos e estropiados, de ambos os lados, se contaram aos milhares”. “(…) Ao núcleo inicial de capitães e alguns majores, foram-se congregando oficiais do Exército de patente mais elevada e dos outros ramos das Forças Armadas. Quando em 5 de Março de 1974, se conseguiu a união dos oficiais do quadro permanente com os oriundos do quadro complemento, ficaram lançadas as bases que conduziriam ao golpe de Estado”.
“O êxito da operação 25 de Abril ficou-se devendo, em grande parte, ao comportamento da população civil, à sua adesão e consequente apoio incondicional ao MFA”. Mas, “logo em Maio de 74, numa reunião restrita dos oficiais do MFA, é apresentada a proposta de que o Movimento devia abandonar a cena política e cessar a sua existência. Essa proposta que é apadrinhada por uma pequena facção militar, é imediatamente recusada e a manutenção do MFA é reconhecida indispensável para o bom e fiel cumprimento do seu programa”.
“As tentativas de agressão e extinção do MFA não cessaram e assim, em Agosto, foram lançados na cidade do Porto, numerosos panfletos que visavam a sua dissolução”, mas os militares mantiveram-se, no essencial, unidos. Por mais um ano. A 25 de novembro de 1975 as divisões no seio do movimento vieram ao de cima, nas ruas, com militares contra militares.