Virgem Suta, banda criada em 2009
Jorge Benvinda, natural de Beja, e Nuno Figueiredo, nascido no Porto, são os Virgem Suta. Em 2009 lançam o seu primeiro álbum, homónimo, resultado de um trabalho de “construção e aprendizagem” iniciado, em parceria, desde o final da sua adolescência. Ao primeiro disco seguiu-se-lhe “Doce Lar”, em 2012, e “Limbo”, em 2015. Em 2018 fazem parte do coletivo responsável pela criação do disco “Paião”, em homenagem ao conhecido autor e cantor português. Em 2021, Jorge Benvinda lança, a solo, “Vida a Dois”, e Nuno Figueiredo, com o heterónimo Figas, apresenta, em 2023, “Dupla”.
A celebrarem 15 anos de carreira e nove anos após o seu ultimo trabalho, os Virgem Suta apresentaram, na passada semana, o seu novo álbum, intitulado “No céu da boca do lobo”, com nove novas canções.
Como nos apresentam este novo trabalho dos “sutas”?Começámos a escrever este álbum numa longa viagem de avião, em 2022, vindos de Santiago do Chile, onde estivemos a tocar no festival Womad [fundação internacional de música e artes], criado pelo Peter Gabriel. É um álbum animado, mas à nossa medida, assente na observação do quotidiano, com histórias de amor, ruralidade, crítica social, muita ironia e duplicidade. O título perspetiva alguém que, estando dentro da boca do lobo, está, sobretudo, a ver um céu azul, magnífico.
Podemos dizer que o lançamento de um álbum novo é um misto de alegria, por poder apresentar novas músicas, e de ansiedade, até perceber se o público as acolhe como gostariam?O lançamento de um álbum, de qualquer trabalho de criação, é, sobretudo, uma oferta ao grande público, que representa a continuidade do trabalho artístico. Fazemo-lo sem sabermos se vai haver reconhecimento, se vai ter sucesso ou não. Pode ser, para toda a gente, uma peça maravilhosa ou ninguém gostar dela. É sempre uma incógnita. Pode-nos dar muita estrada e muitos concertos ou pode, até, eliminar-nos da nossa vida artística. O nosso pressuposto, enquanto músicos, enquanto artistas, é apresentarmos o que nos dá “na gana”, retirando daí uma satisfação pessoal, na esperança de que a malta goste. Tivemos, acima de tudo, um prazer muito grande a fazer este disco. Investimos muito neste trabalho. Com gozo.
Tocar temas novos ao vivo é especialmente estimulante e gratificante?Sem dúvida. É esse o grande desafio de fazer canções – depois de estarem gravadas há que reaprendê-las, arranjando soluções para as apresentar ao vivo, em banda.
Os Virgem Suta são autores de vários temas que fazem já parte do coletivo imaginário pop português, a exemplo de “Linhas cruzadas” e “Dança de balcão”. Criar um êxito que ponha Portugal inteiro a cantar é uma fórmula inexplicável ou um segredo bem guardado?Se olharmos para a atualidade da música, observamos que se copiam sucessos, para se ter êxito. A atualidade é feita de muitos truques de produção e há determinadas rádios em que só é possível entrar se a tua música for parecida com a que no momento está a ser apresentada. Se saís um bocadinho fora desse formato, não entras – dizem-te logo que a tua música “é muito diferente” e não cabes, “neste momento”, no alinhamento que se pretende. Embora tenhamos noção de que a produção é importante, se quisermos alcançar determinados locais, nós continuamos a fazer canções simples, com atenção às melodias, com o nosso cunho pessoal. Vamos sempre atrás daquilo que nos faz sentido, sem usarmos grandes artifícios. Procuramos a genuinidade. Se uma canção nossa se torna um single cantado por toda a gente, será, com certeza, através de uma fórmula inexplicável. José Serrano