A propósito da recente tomada de posse de Nuno Augusto Ferro como presidente da Federação Alentejana de Caçadores (FAC) o “Diário do Alentejo” conservou com o próprio sobre as ações que, desde logo, pretende tomar, os principais fatores que mais têm contribuído, na região, para a perda de efetivos cinegéticos autóctones, assim como a sua visão quanto ao risco do setor cessar.
Texto | José Serrano
Assumiu, recentemente, a presidência da FAC. Quais as principais ações que, desde logo, pretende tomar? Um dos objetivos imediatos desta nova direção da FAC é fortalecer a imagem pública da federação, dos seus associados e caçadores, estabelecendo protocolos com instituições, públicas e privadas, ligadas ao setor. Só através da união e do trabalho conjunto entre entidades será possível iniciarmos o caminho de reversão do atual estado do setor, proporcionando a entidades gestoras e caçadores melhorias nas condições existentes.
Quais os principais fatores que mais têm contribuído, na região, para a perda de efetivos cinegéticos autóctones, nomeadamente, a perdiz, o coelho e a lebre?O principal fator relaciona-se com as doenças registadas na última década, sobretudo, a mixomatose e a doença hemorrágica viral. Mas outros fatores se somam: a falta de controlo de predadores, que se têm difundido de forma descontrolada, até por via do abandono de muitos espaços rurais; a proliferação de javalis, causando baixas nas espécies autóctones de caça menor, particularmente, nos juvenis; a alteração do tipo de culturas que se praticam, especialmente, a substituição da sementeira de cereais por culturas de regadio e plantação de feno, que obriga a um reforço de alimentação, colocada no campo pelas zonas de caça, com o consequente aumento de custos que, nesta fase, se mostram quase incomportáveis; a falta de uma adequada gestão em muitas zonas de caça, por falta de apoios financeiros e de técnicos habilitados.
Tem a prática da caça, e as atividades económicas e sociais que lhe estão adendas, a sua continuidade assegurada, no Alentejo, ou o risco do setor cessar coloca-se?Esse risco é residual. A caça é uma atividade que contribui para a gestão adequada dos ecossistemas e para a biodiversidade. Sem caçadores seria impossível a prática de uma agricultura rentável, pela proliferação de espécies como o javali, que, sem controlo, causaria prejuízos consideráveis e contribuiria para o aumento dos acidentes rodoviários. São os caçadores que contribuem, nas zonas de caça, para a alimentação e abeberamento de espécies, para lá das cinegéticas, através da disponibilização de semente e água. A atividade económica que a caça gera, através do pagamento de licenças e seguros anuais, de gastos com alimentação e cuidados veterinários, da aquisição de equipamento, de ocupação de unidades hoteleiras e restauração, é muito relevante. Tanto mais que este “investimento” por parte dos caçadores é feito em zonas de interior, economicamente carenciadas, onde a caça vai garantindo postos de trabalho e a subsistência financeira de pequenos agentes económicos. A caça é uma relevante atividade, da qual o Alentejo, região do País com maior tradição e melhores condições para a sua prática, não pode prescindir.