Joaquim Falcão de Lima
Natural de Lisboa
Autor de livros e de artigos de genealogia e heráldica. Tem investigado, recentemente, a história da aeronáutica portuguesa do início do século XX, tendo percorrido diversos arquivos históricos e documentais. Licenciado em Economia e com MBA pela Universidade Católica, é pós-graduado em várias áreas da gestão. Atualmente é consultor, formador e palestrante nas áreas da sua especialidade e tem desenvolvido projetos de consultoria para empresas. Dedica parte do seu tempo como mentor de alunos universitários e é diretor executivo na Católica Alumni Association.
O Sonho de Voar: A voar nas memórias de uma viagem pioneira, obra da autoria de Joaquim Falcão de Lima, que recorda a primeira viagem aérea Portugal – Macau, realizada, em 1924, pelos aviadores Brito Paes e Sarmento de Beires, apoiados pelo mecânico Manuel Gouveia, será apresentado hoje, dia 20, às 18:30 horas, na Biblioteca Municipal de Ourique.
Como nos resume esta sua obra?
Este livro é um tributo aos aviadores. Nele se explicam os porquês desta viagem e se relatam algumas das dificuldades encontradas. Procura-se estabelecer o enquadramento social e económico da época e, também, dos seus protagonistas. Uma outra coisa que se faz nesta obra é identificar e clarificar que os protagonistas não são apenas os aviadores, mas também os que na retaguarda garantiram que a viagem se concluísse com sucesso. Um destes protagonistas é a “alma portuguesa”, que quando tem um “desafio nacional” faz o possível para garantir que o objetivo é atingido. Tem sido assim ao longo de toda a nossa história.
A viagem aérea iniciou-se na planície de Coitos, em Vila Nova de Milfontes, Odemira. Qual a razão da escolha do litoral alentejano para o começo desta aventura de 17 000 quilómetros?
Tratava-se de uma planície com extensão suficiente para um avião daquela categoria poder fazer um levantamento com segurança – um bombardeiro que foi adaptado com dois depósitos de combustível. Por outro lado, havia alguma polémica em relação à concretização da viagem, pois existia em Lisboa quem a apoiasse e quem não. Nesse sentido, os aviadores quiseram fugir um bocadinho desse “radar”. E, obviamente, há razões emocionais, pois Brito Paes nasceu em Ourique e cresceu em Colos [freguesia de Odemira]. Conhecia bem a zona, na qual fez, juntamente com Sarmento de Beires, vários voos de treino.
Constitui esta travessia, para além de um extraordinário feito de aviação pioneira, o paradigma da superação humana?
Esta viagem foi um desafio enorme do ponto de vista humano. Os aviões utilizados [dois] estavam a descoberto, não existindo neles carlingas para proteger as pessoas. Ao longo da viagem atravessaram zonas com temperaturas de diferentes gradientes, em que tão depressa estava a chover como apanhavam com nuvens muito serradas. Tiveram, por vezes, de subir acima dos 3000 metros de altitude, com o risco de sofrerem desorientação face à falta de oxigênio… Há aqui um sem número de fenómenos que testaram ao limite a capacidade humana.
Representa a criação deste livro uma ação que pretende resgatar este feito do esquecimento?
Pretende, sobretudo, resgatá-lo do desconhecimento. Trata-se do “dever de memória” não só das instituições, mas, também, das pessoas, das famílias. Estive muitas vezes sentado à lareira com a minha avó, prima-irmã de Brito Paes, a ouvir esta história. Temos o dever de recordar aquilo que é a nossa vida, os sucessos e os insucessos das famílias, e passar um pouco dessa história às gerações presentes e futuras, para que o caminho da cultura se faça através do tempo.
José Serrano