A propósito do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, o “Diário do Alentejo” conversou com a diretora do Serviço Local de Saúde Mental da Unidade Local do Baixo Alentejo, Ana Matos Pires, sobre a função desta data, o funcionamento da linha nacional para a prevenção do suicídio e de comportamentos autolesivos, acessível 24 horas por dia e de forma gratuita, e as principais carências com que a região do Baixo Alentejo mais se confronta no que diz respeito à prevenção do suicídio.
Texto | José Serrano
Foi recentemente assinalado o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. Tem sido, em Portugal, a função desta data devidamente reconhecida?
Sim, sem dúvida. Desde há muito tempo que o 10 de setembro é assinalado em Portugal, havendo mesmo a extensão da efeméride a todo o mês, com múltiplas atividades desenvolvidas em todo o País. Acima de tudo, esta data tem servido para chamar a atenção para o problema e desenvolver estratégias de prevenção para as diferentes idades e populações de risco, tendo sempre como referencial a Organização Mundial de Saúde e a International Association for Suicide Prevention (IASP).
O Parlamento aprovou, no final de 2023, a criação de uma linha nacional para a prevenção do suicídio e de comportamentos autolesivos, acessível 24 horas por dia e de forma gratuita. Para quando se prevê o funcionamento deste serviço?
A secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, anunciou no Dia Mundial da Prevenção do Suicídio que a linha terá um número de contacto exclusivo de quatro dígitos que será amplamente divulgado antes do seu lançamento, previsto para janeiro de 2025. O novo serviço será o resultado da criação, em julho, de um grupo de trabalho que envolve elementos da Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental, da Secretaria de Estado da Saúde, da Secretaria de Estado da Gestão da Saúde e dos SPMS – Serviços Partilhados do Ministério da Saúde. Neste momento o grupo está a desenvolver os aspetos técnicos e científicos necessários ao funcionamento da linha.
Quais as principais carências com que a região do Baixo Alentejo mais se confronta no que diz respeito à prevenção do suicídio?
As carências que aqui existem são as mesmas que encontramos nas outras regiões do País, onde a falta de recursos humanos para trabalhar em saúde mental continua a ser uma realidade. O investimento em modalidades de prevenção da doença mental, e dos comportamentos suicidários, em particular, juntamente com a promoção da saúde mental, com a necessidade de aumento de literacia, são o caminho que deverá ser seguido. O suicídio é um comportamento – é preciso informar e fazê-lo de um modo claro e cientificamente correto. Não é “não falar”, é falar “corretamente”, e aqui os meios de comunicação social têm um importante papel na passagem da mensagem. O mote proposto pela IASP, nos próximos três anos, é, exatamente, aumentar a “comunicação” e propor a “conversa” sobre este assunto.