Telo Faria, 64 anos, natural de Horta, Açores
Elemento do Conselho Consultivo da Direção do Núcleo VIH (vírus da imunodeficiência humana) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI). Coordenador da Região Alentejo das infeções sexualmente transmissíveis (IST), infeção VIH/SIDA e hepatites virais. Foi membro do Comité Científico da Profilaxia de Pré-exposição da Direção-Geral da Saúde (DGS), coordenador do Núcleo VIH/SIDA da SPMI e elemento da equipa nacional responsável pela conceção dos “referenciais de formação no domínio da VIH/SIDA”. Vive há 41 anos no Baixo Alentejo.
No âmbito dos 40 anos da infeção por VIH em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS), agraciou, dia 10, “pelo contributo dado a esta área”, Telo Faria, médico da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba).
Qual o significado que tem para si esta distinção?
Trata-se do reconhecimento do trabalho realizado pelas equipas que tenho o privilégio de coordenar, a nível local, regional e nacional. Trabalho realizado, sempre, em termos públicos e com espírito de missão.
Atualmente o diagnóstico de VIH/SIDA deixou de ser, definitivamente, uma “sentença de morte”?
A infeção VIH/SIDA passou, em 40 anos, de uma doença de morte inevitável para uma doença considerada crónica, tal como a hipertensão arterial ou a diabetes. Os pacientes apresentam uma sobrevida e uma qualidade de vida idêntica à população em geral, desde que haja cumprimento da terapêutica. Isto é único na história da medicina humana.
A evolução no tratamento da doença foi acompanhada por uma diminuição do estigma ao VIH/SIDA ou o preconceito relativo à infeção persiste?
A evolução excecional em termos científicos – abordagem, prevenção e, essencialmente, tratamento da infeção – que se verificou, não foi acompanhada, do mesmo modo, do ponto de vista da estigmatização e descriminação social que, infelizmente, continuam a recair sobre os doentes. Por razões culturais e de iliteracia geral.
Considera que as novas gerações têm uma perceção conveniente da necessidade de prevenção das IST?
As sessões de literacia médica que fazemos ao nível de escolas, estabelecimentos prisionais e outras instituições, as consultas de prevenção farmacológica e os resultados dos trabalhos epidemiológicos realizados, mostram-nos que nas gerações mais novas existe, nomeadamente, nos últimos 15 anos, um maior conhecimento das doenças de transmissão sexual e das suas formas de prevenção. No entanto, a incidência e a prevalência da infeção VIH e outras formas de IST continuam a ser maior no nosso País que nos restantes da União Europeia. Em termos gerais e, particularmente, em Portugal, há, ainda, um longo trabalho a fazer, especialmente a nível da saúde pública e dos cuidados primários de saúde.
Dispõe a Ulsba da capacidade necessária aos desafios de resposta à prevenção e ao tratamento do VIH/SIDA que, atualmente, se colocam?
A Consulta Multidisciplinar de Doenças Infeciosas da Ulsba, com componente médica, de psicologia clínica, enfermagem, farmácia e serviço social, continua a ser de referência a nível nacional, pela sua organização interna e profissionalismo ao serviço do utente. Isto é patente no facto de o hospital de Beja ser dos primeiros, no país, e o primeiro da zona sul (Alentejo e Algarve), a iniciar a administração de medicação antirretroviral injetável, que constitui o último upgrade na prevenção e tratamento do VIH/SIDA.
Texto José Serrano