Diário do Alentejo

Guerra, saúde e (ainda) a Pide

09 de agosto 2024 - 12:00
50 anos de Abril

Texto | Aníbal Fernandes

 

Nos dias em que vivemos, basta ouvir os noticiários na rádio, vê-los nas televisões ou lê-los nos jornais, para sermos confrontados com os valores exorbitantes gastos em armamento para alimentar os conflitos que grassam um pouco por todo o mundo, mas com maior visibilidade mediática na Ucrânia e na Faixa de Gaza.

Há 50 anos, na edição 12 950, segunda-feira, 4 de agosto, o “Diário do Alentejo” destacava o assunto na primeira página: “Em 1973 os gastos militares mundiais ultrapassaram os 207 000 milhões de dólares”.

Agora, a NATO pede aos países que a integram que invistam em defesa dois por cento do PIB. Na altura, este número representava “6,7 por cento do produto nacional bruto de todos os países do mundo. Trinta vezes maior do que o dedicado pelos países desenvolvidos à ajuda externa e [equivalia] aos rendimentos dos 2000 milhões de pessoas que habitam o Terceiro Mundo”.

E a notícia revelava que “quatrocentos mil cientistas de todo o mundo, com um orçamento de 20 mil milhões de dólares anuais, [dedicavam-se], exclusivamente, ao desenvolvimento de novas armas”.

Os vendedores eram, no essencial, os mesmos que agora têm no negócio da guerra uma importante fonte de receitas: França, Grã-Bretanha, Estados Unidos da América e União Soviética.

Hoje, o tema são os F16 “cedidos” pelo Ocidente à Ucrânia; na altura os EUA vendiam “em exclusivo, ao Irão, os moderníssimos F14, que [eram] a última palavra em aviões de combate”. Por seu lado, a União Soviética fornecia “à Síria, o seu mais moderno reactor, o Mig25, quase recém-chegado à própria aviação soviética”.

E fazia-se o balanço da utilização do armamento: “Durante as três semanas da guerra do Kipur, os contendores perderam um avião por hora e um carro de combate em cada 15 minutos. Mas árabes e israelitas não só repuseram já o arsenal perdido, como adquiriram armas mais aperfeiçoadas, com base na experiência conseguida nas recentes batalhas”.A guerra é a guerra.

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Também por esses dias se ouvia – pela primeira vez – falar na “criação de um serviço nacional de saúde”.

O “Diário do Alentejo” anunciava que competia à “Secretaria de Estado da Saúde, para cumprimento do Programa do Movimento das Forças Armadas, o lançamento das bases para a criação de um Serviço Nacional de Saúde ao qual tenham acesso todos os cidadãos”.

Essa decisão obrigava a “remodelações profundas nas estruturas existentes. No entanto, essas remodelações exigem análises aturadas da problemática actual e consultas amplas que, mesmo conduzidas com a desejável celeridade, não podem estar concluídas a curto prazo”.

“Entre as ideias conducentes a algumas das atitudes assumidas, avulta a de que os hospitais pertencem aos profissionais que neles trabalham quando a verdade é que pertencem a toda a Nação, facto incontroverso que torna impossível o aceitar as assembleias de trabalhadores como órgãos exclusivos na orientação desses estabelecimentos. A reestruturação prevista implica a necessária substituição de elementos inadaptáveis aos novos moldes de funcionamento dos serviços responsáveis pela saúde das populações, através de um saneamento que, conforme já foi superiormente definido, deve ser inflexível mas ordenado e justo”.

A mudança é sempre difícil.

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“Sabe-se agora, por via oficial, que a ex-Pide tinha ao seu serviço 2162 funcionários, dispondo, ainda, de 2000 informadores, espalhados por todo o País. Por outro lado a ex-Legião Portuguesa contava com 8000 homens ao seu serviço e 600 informadores”, informava o “DA” numa breve na última página.

 

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