Diário do Alentejo

“O que me inspira são as doces e fugazes sensações de paz e beleza”

13 de julho 2024 - 08:00
José O’Neill Teixeira vence concurso nacional de ilustração

José O’Neill Teixeira 26 anos, natural de Serpa

 

Com o nome artístico Lacortei, José O’Neill Teixeira tem elaborado portfólio na área da ilustração e colagem. Tem colaborado com artistas da área da música, criando artworks para posters, merch e capas de discos. Fascinado pela obra de Gauguin, dá valor à composição, à linha e às cores planas. Para si textura é emoção. Estudou Ilustração e Produção Gráfica na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha e especializou-se em Ilustração Digital na Lisbon School of Design.

 

José O’Neill Teixeira foi o vencedor, na área “Ilustração”, do concurso Novos Talentos FNAC 2024, que procura “incentivar os portugueses a partilharem os seus talentos” em diversas vertentes culturais.

 

Como nos descreve o conjunto de obras vencedoras que apresentou a concurso?

As obras apresentadas a concurso são coloridas, têm clichês visuais, personagens mascaradas em comunhão e celebram a diversidade e o lugar-comum de todos, bem como a liberdade necessária para nos expressarmos.

 

Quais as características do seu trabalho destacadas pelo júri que, por unanimidade, lhe atribuiu esta distinção?

O júri destacou o meu trabalho pelo lado, fortemente, autoral, segundo os seus membros carregado de inventividade e provocação. Criando desconforto pela figuração arriscada, mistura de imaginários, referências kitsch, paleta de cores e composições/enquadramentos atípicos das imagens.

 

Indicia o título do conjunto de obras que apresentou, “Tempo de parecer, tempo de aparecer”, uma crítica subjacente à fugacidade da sociedade mediática contemporânea?

É, sem dúvida, uma crítica, mas de uma outra perspetiva. “Tempo de parecer, tempo de aparecer” propõe o exercício contrário de aceitarmos “as máscaras” que todos usamos na sociedade, que sempre tiveram uma conotação negativa. Tendo o costume e o disfarce como ferramentas ou mecanismos prediletos para nos expressarmos neste universo desenhado, proponho pegar nas futilidades da vida e inverter os seus estatutos, a fim de sermos quem não teríamos coragem de ser, fazer o que realmente quisermos, ganharmos coragem para aparecer (e parecer com algo).

 

O que, inevitavelmente, o inspira e desassossega para iniciar um novo trabalho?

O que me desassossega manifesta-se em mim de outra maneira, eu procuro a calma e um estado de espírito tranquilo para desenhar e trabalhar. É ao encontrar isso que, naturalmente, começo a criar. O que me inspira não é nada de concreto ou específico, mas, sim, todo o tipo de doces e fugazes sensações de paz e beleza.

 

Quanta da sua condição de alentejano influi o seu olhar artístico e crítico perante a vida e os outros?

Para mim, ser alentejano traz qualidades das quais muitas vezes nem tenho a perfeita noção de estarem presentes em mim. Só ao estar fora do nosso belo território sinto a diferença, através dos outros que me rodeiam. Acaba por refletir-se no meu trabalho, também, a calma das personagens, as planícies, a luz e, por vezes, um meio mais rural, mais contemplativo.

 

Texto José Serrano

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