Diário do Alentejo

Oficina Os Infantes fechou portas

13 de julho 2024 - 08:00
Espaço era o único representante no Baixo Alentejo do Circuito, uma rede nacional de casas com música ao vivo
Foto | Oficina Os InfantesFoto | Oficina Os Infantes

A falta de apoios, o fraco retorno financeiro, as dificuldades burocráticas, a pouca adesão da comunidade e a contínua desvalorização da cultura e da arte na cidade de Beja levaram, no passado dia 6, ao encerramento da Oficina Os Infantes. O espaço, que reabriu em setembro de 2017, apresentava-se com uma “programação alternativa” e “um ambiente multicultural” e diferenciado.

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

“Fico triste por isto, tentámos manter o espaço até quando foi possível e viável, se calhar até adiámos um bocadinho demais o fecho [porque] esta coisa do viável não é propriamente verdade. No entanto, Os Infantes foram durante muitos anos o único espaço com uma programação e música alternativa, um espaço para conversar aberto até às quatro da manhã e que tanto se conversava como se jogava jenga, dançava ou jogava setas. Havia ali uma forma de estar naquele espaço que não vejo replicado em mais espaço nenhum da cidade, com grande pena minha”. É desta forma que Ana Ademar, arrendatária da Oficina Os Infantes, fala sobre a despedida de um dos espaços culturais mais emblemáticos da cidade de Beja.

O local, que encerrou no passado dia 6, apresentava-se com uma essência diferenciada, sendo “uma oficina de trabalho, uma galeria de exposições, uma livraria, um bar” e, inclusive, um “espaço de copos, conversas e festas”.

“O conceito sempre foi que este fosse um espaço cultural, não simplesmente um bar, porque, de facto, esse era a valência menos importante para nós. A coisa foi sempre ter concertos, exposições, também entretenimento, sessões com DJ, música dançável e, às vezes, um bocadinho mais comercial até, mas foi sempre um espaço em que nós procurámos manter uma programação cultural viva [e] dinâmica”, reforça.

A decisão de encerrar a Oficina Os Infantes, segundo Ana Ademar, prendeu-se, sobretudo, com a falta de apoios monetários, “as dificuldades burocráticas desta cidade”, o fraco “retorno financeiro para manter o espaço”, assim como o “cada vez menos interesse nestas áreas artísticas”.

“Apesar de haver muita gente amiga do espaço, e que usufruía com muito gosto da programação que nós fomos fazendo, eram poucas. A ideia foi sempre que o espaço pudesse ser, em alguma altura, autossuficiente, mas não resultou”, garante. E acrescenta: “Não quero soar agressiva, nem má ou amarga, mas foram muitos anos de trabalho [e] a verdade é que era bom que tivesse havido apoio em vez de haver agora carpideiras”.

A antiga arrendatária preocupa-se agora com o futuro. Com o fechar portas da Oficina Os Infantes, “a cidade fica mais pobre” e o Baixo Alentejo sem qualquer representante no Circuito, ou seja, uma “rede nacional para a valorização, proteção e desenvolvimento das salas e clubes com programação própria de música popular ao vivo”.

“Nos últimos anos houve um decréscimo acentuado da oferta cultural da cidade. E nós tentamos combater isso com o que pudemos. Portanto, é urgente que alguém ganhe coragem e se chegue à frente, pelo menos mais sete anos. Se eu aguentei sete anos há de haver alguém que consiga levar a coisa para a frente. Era muito bom e muita falta nos fazia”, sublinha.

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