Diário do Alentejo

“Conhecer o que existe, para ser protegido”

06 de julho 2024 - 08:00
“Castro Verde, Reserva da Biosfera”, uma exposição de Dinis Cortes

Dinis Cortes 68 anos, natural de Vila Real

 

Médico. Fotógrafo de natureza e vida selvagem, desde 1980, frequentou e ministrou, nesta área, inúmeras ações de formação. “Prémio Carreira” atribuído pelo Fapas – Fundo para a Proteção dos Animais Selvagens e pela Câmara de Castelo de Vide pelo trabalho de divulgação científica e formação realizado na área Natureza. Autor de várias publicações sobre o universo das aves de Portugal, é assessor para a área de natureza e biodiversidade da empresa Wildscape.

 

No âmbito do sétimo aniversário da classificação de Castro Verde como Reserva da Biosfera pela Unesco, a câmara municipal, em parceria com a Associação de Agricultores do Campo Branco e a Liga para a Proteção da Natureza, apresenta no Museu da Ruralidade, na aldeia de Entradas, até dia 31, a exposição de fotografia “Castro Verde, Reserva da Biosfera – Unesco”, de Dinis Cortes.

 

Como nos apresenta esta sua exposição?

A exposição tem 12 painéis temáticos que exibem, genericamente, a biodiversidade presente na reserva. Foi privilegiado o impacto das fotos, os enquadramentos, atitudes e cores das espécies representadas. Por exemplo, o painel “Insectos: as cores do voo” apresenta imagens de espécies mais coloridas ou de perfil mais atrativo, para que os espetadores, especialmente, os mais novos, se apercebam da beleza e diversidade das espécies. É assim que se dão os primeiros passos na conservação – é preciso conhecer o que existe, para que possa ser protegido e apreciado.

 

No âmbito desse património natural, as aves existentes no território são muito atrativas para registos fotográficos de ornitologia…

Sem dúvida. A região de Castro Verde está no mapa de qualquer fotógrafo de aves deste país e, mesmo, do estrangeiro. Espécies muito procuradas são o rolieiro (Coracias garrulus), a abetarda (Otis tarda), o sisão (Tetrax tetrax), o alcaravão (Burhinus oedicnemus), a perdiz-do-mar (Glareola pratincola), o cortiçol-de-barriga-preta (Pterocles orientalis), a águia-imperial (Aquila adalberti), a águia-real (Aquila chrysaetus) ou a águia-de-Bonelli (Aquila fasciata).

 

Para que as gerações futuras possam vir a desfrutar da presença destas aves que erros não se podem, hoje, cometer?

O principal fator de ameaça para qualquer espécie é a alteração dos habitats. Uma ave estepária, como a abetarda, que necessita de territórios amplos e desmatados, nunca sobreviverá a uma cultura de espécies arbustivas ou arbóreas. É errado o conceito “as aves mudam-se para outros locais”, porque esses “outros locais” são cada vez mais difíceis de encontrar. Manter os ecossistemas que constituem a paisagem do Campo Branco é a medida prioritária. E é necessário pensar uma resposta eficaz às alterações climáticas em curso e não fazer de conta que não existem…

 

Que importância pode ter este património de biodiversidade para o desenvolvimento comunitário?

É fundamental que as pessoas percebam a importância da conservação deste património. O turismo ecológico é limpo e sustentável, praticado, geralmente, por gente instruída, respeitadora dos espaços e com bom poder de compra. Viver neste concelho, em que se concilia uma importantíssima atividade industrial de mineração, com uma agricultura e pecuária estruturada e uma biodiversidade “de nicho de qualidade”, é um grande desafio para os atores locais, neste caso os promotores da Reserva da Biosfera, que, até ao momento, têm mantido as “bandeiras” iniciais de correta agregação das atividades humanas com a biodiversidade.

 

Texto José Serrano

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