Diário do Alentejo

Mértola tem projeto pioneiro de visualização de espécies em direto

30 de junho 2024 - 08:00
Atualmente estão disponíveis três câmaras
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

O “Mértola Bio Live Cam” é o novo projeto inovador da câmara municipal que “disponibiliza imagens em direto 24 horas por dia e 365 dias por ano” de “diferentes habitats e espécies” do centro cinegético, na zona de caça municipal. Apresentado on line há duas semanas, pretende “oferecer uma experiência única a todos os amantes da natureza que têm curiosidade pelos comportamentos de algumas espécies”, assim como mostrar e partilhar evidências a quem estuda este tipo de espécies cinegéticas.

 

Texto Ana Filipa Sousa de Sousa

 

“Temos uma expectativa enorme com este projeto. No entanto, estamos a fazer algo que ainda não foi feito, em que, por esse mesmo motivo, existem sempre alguns riscos inerentes, nomeadamente, na dificuldade de calcular o tempo que leva a executar determinada tarefa e a probabilidade de ficar a funcionar a 100 por cento logo na primeira tentativa. Temos uma ambição muito grande, mas controlada e consciente”. É desta forma que Mário Tomé, presidente da Câmara Municipal de Mértola, descreve a ambição que o município tem para o “Mértola Bio Live Cam”, o projeto pioneiro que está a levar a cabo no centro cinegético do concelho.

Em termos concretos, foram colocadas três câmaras de alta definição – nos parques n.º 1 e n.º 2 do “Projeto de recuperação da lebre-ibérica e coelho-bravo” (Prlic) e junto a uma charca –, assentes numa “infraestrutura tecnológica” que “disponibiliza imagens em direto 24 horas por dia e 365 dias por ano” para qualquer “dispositivo com acesso à Internet”, permitindo “visualizar imagens de diferentes habitats e espécies e apreciar o comportamento das mesmas”.

Segundo Mário Tomé, além da possibilidade de “oferecer uma experiência única a todos os amantes da natureza”, o “Mértola Bio Live Cam” servirá, também, para “mostrar evidências das consequências benéficas que a gestão cinegética oferece à biodiversidade”, “promover o nosso território através da divulgação das imagens captadas pelas nossas câmaras”, “possibilitar à comunidade o acompanhamento do projeto Prlic”, “registar o maior número de diferentes espécies não cinegéticas alimentadas pelos caçadores” e “partilhar [enquanto] ferramenta de monitorização [informação] a todos os que estudam algumas espécies cinegéticas, [como] biólogos, técnicos florestais, gestores cinegéticos e investigadores”.

Afirmando-se como “Capital da Caça” e, por conseguinte, tendo “uma responsabilidade especial na promoção e conservação da biodiversidade”, este tipo de projetos adquire, em Mértola, uma importância “multifacetada”.

“Ao nível da conservação ambiental os projetos de biodiversidade ajudam a preservar ecossistemas locais, protegendo espécies nativas e habitats naturais [e] isso é crucial para manter o equilíbrio ecológico e garantir que futuras gerações possam desfrutar de um ambiente saudável e diverso. Envolver a comunidade, especialmente, os mais novos, em atividades de conservação, fomenta um compromisso duradouro com a proteção ambiental e com o próprio território. Por fim, não esquecer também a vertente económica, uma vez que a biodiversidade bem conservada atrai inúmeros interessados na natureza e na caça, impulsionando e sentindo o que pode ser um turismo sustentável”, reconhece o autarca.

Desta forma, o próprio feedback recebido “superou todas as expectativas”. Inicialmente optou-se por divulgar pequenos vídeos de espécies, “maioritariamente, de coelhos e perdizes”, captados pelas câmaras para “ir criando alguma curiosidade com o projeto e desvendar o que poderia ser, mas sem nunca dar a informação toda”, assim como perceber o seu impacto na comunidade.

“Tivemos vídeos com mais de 100 mil visualizações, isto tudo numa página com pouco mais de oito mil seguidores. Este projeto é mesmo muito recente, foi apresentado pela primeira vez, presencialmente, na jornada da caça de maio, e só há cerca de 15 dias é que o divulgámos nos nossos canais de comunicação digital. Temos, por isso, ainda poucas informações ao nível de estatísticas, mas as poucas que temos são extremamente positivas e encorajadoras para tornar este projeto ainda mais impactante nas pessoas”, realça.

 

Ainda assim, os olhos já estão postos no futuro. Durante o próximo mês de julho a previsão é que o “Mértola Bio Live Cam” se alargue para “dois novos locais, diferentes” e, a médio-longo prazo, que seja possível começar a visualizar zonas com abundância de veados, gamos, muflões e linces, cevadouros de javalis, comedouros de pombos-torcazes, ninhos de peneiros-das-torres e de águias-imperial-ibéricas e barragens com patos selvagens e outras aquáticas.

 

Mértola aposta na recuperação da lebre-ibérica e do coelho-bravo

 

O “Projeto de recuperação da lebre-ibérica e coelho-bravo” (Prlic) é outra das iniciativas de conservação da natureza que a Câmara Municipal de Mértola tem estado a desenvolver. O intuito, segundo Mário Tomé, passa por “recuperar estas espécies na zona de caça municipal e, posteriormente, em zonas de caça do concelho de Mértola que pretendam aderir ao projeto”, permitindo no futuro “contribuir para a sobrevivência de algumas espécies em perigo, como o lince-ibérico, a águia-imperial-ibérica, a águia-de-bonelli, entre muitas outras”. “Em outubro de 2023 foram colocados os primeiros 25 coelhos-bravos nos nossos cercados no centro cinegético, e alguns meses depois já temos mais de duas centenas de coelhos-bravos, resultado do sucesso deste projeto”, confirma. Atualmente, o Prlic encontra-se na sua segunda fase de execução – colocar os animais dentro dos parques, monitoriza-los e proporcionar a sua reprodução –, prevendo-se mais três, em que se deverá soltar uma população significativa de coelho-bravo para um parque exterior, em regime semiaberto, repovoar a zona de caça municipal com os animais criados nesses parques e, por fim, replicar este mesmo modelo.

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