Diário do Alentejo

Uma viagem melódica de cinco séculos

18 de maio 2024 - 18:00
Música no Concelho de Moura – Um breve historial, de José António Correia

Quadro de honra José António Correia, 67 anos, natural de Portalegre

 

Chegou com três meses de idade a Moura, onde sempre tem vivido. É licenciado em História – Artes e Património, pela Universidade Aberta. Foi cofundador do grupo de música popular Ardila e colaborou como músico e compositor em vários outros coletivos musicais, a exemplo de Arucivetus. Lecionou educação musical na escola preparatória de Serpa. Pertenceu aos quadros, da sessão cultural, da Câmara de Moura. É autor de vários livros relacionados com “a identidade dos mourenses”.

 

José António Correia lançou, recentemente, o livro Música no Concelho de Moura – Um Breve Historial, com prefácio escrito pelo vocalista e compositor da banda UHF, António Manuel Ribeiro.

 

Que abrangência temporal e musical tem este seu livro?

O livro é uma “viagem ao passado” que começa no século XVI (1573) e se prolonga até hoje. A obra apresenta uma diversidade de mestres de canto e organistas, músicos/compositores, cantores e grupos musicais, bandas filarmónicas, orquestras de variedades, grupos corais e de música popular e conjuntos de baile e covers. Neste meu trabalho figuram, ainda, modas do cante alentejano, o toque dos sinos e os pregões.

 

Qual a importância da música na construção da identidade do concelho de Moura?

Só os músicos das quatro bandas filarmónicas do concelho (Sociedade Filarmónica União Morense “Os Amarelos”; Centro Recreativo Amadores de Música “Os Leões”; Sociedade Filarmónica União Musical Amarelejense e Círculo Artístico Musical Safarense) tiveram aprendizagem nas escolas das referidas coletividades. Todo o restante panorama musical concelhio esteve a cargo de amadores. Só desde há poucos anos é que Moura tem um estabelecimento escolar dedicado, exclusivamente, à suprema das artes – o Conservatório Regional do Baixo Alentejo, que tem proporcionado a esta nova geração uma aprendizagem nos mais diversos instrumentos musicais.

 

Como classifica a atual predisposição da população de Moura, nomeadamente, dos mais jovens, para a aprendizagem musical?

Penso que com o conservatório a aprendizagem dos jovens alunos se processa de uma forma profissionalizada, que lhes permite adquirir um grau elevado de conhecimentos musicais e, simultaneamente, aumentar a qualidade de execução. Não podemos, também, deixar de referir a inegável importância que as sociedades filarmónicas e/ou recreativas têm tido junto da população, tanto na ação formativa, como no contributo para a divulgação cultural e musical, ao longo de mais de um século.

 

Tem Moura, para além da sua ligação à música popular, uma ligação com ritmos mais urbanos, nomeadamente, o rock?

Desde os anos 70 do século XX que Moura tem tido um elevado número de conjuntos, cerca de 80. Grupos que, dentro do seu amadorismo, conseguiram proporcionar momentos de prazer e pura diversão a várias gerações. Pelo número de anos que resistiram, e pela memorização que deles têm as gentes do nosso concelho, muito provavelmente a música que tocaram influiu no gosto popular.

 

Que importância dá à perpetuação da memória, a exemplo desta sua obra, para a continuidade das tradições musicais do concelho?

É fundamental que se preserve a história e se perpetue a memória para que se possa respeitar o passado, aprender com ele, evitar os erros cometidos e construir um futuro mais auspicioso. Não sendo devidamente perpetuado o nosso valioso património musical será conduzido a profundas transformações de vulto.

 

Texto José Serrano

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